Falta à PSP acertar o passo
Nesta edição publicamos uma entrevista ao responsável nacional da PSP pelo Policiamento de Proximidade, Prevenção Criminal e de Direitos Humanos. Hugo Guinote desvenda uma face da PSP pouco familiar nas “bolhas” mediática e de certas redes sociais, mas com toda a certeza largamente conhecida por toda a população que dela beneficia. Segundo este intendente, a PSP tem um total de 850 agentes dedicados aos programas de policiamento de proximidade.
Não é detalhado no texto, mas para a “Escola Segura” estão afetos 265; para as equipas mistas da “Escola Segura e Apoio à Vítima” estão 103; nas brigadas de investigação criminal de violência doméstica estão 68 - todos supervisionados por 115 outros polícias. Além destes, existem ainda os programas especiais, tais como o “Apoio 65 - idosos em segurança”; o “Significativo Azul”, para pessoas com deficiência; o Comércio, Abastecimento, Farmácia e Táxi Seguro; e o “Saúde em Segurança”. Ao todo, em 2023, a PSP fez quase 14 mil ações de sensibilização para quase 400 mil destinatários, dos quais 49 400 contactos individuais.
Para uma polícia que é muitas vezes criticada por ser excessivamente musculada, securitária e repressiva, este trabalho humanista mostra a face que, possivelmente, boa parte da população conhece. Talvez seja essa uma das razões que colocam a polícia (no caso não só a PSP, mas é esta que tem o maior volume de interações com a população) no topo das instituições que motivam maior confiança aos portugueses. O último relatório da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) mostra que a polícia surge como a instituição mais confiável para 64,51% dos portugueses inquiridos.
Parece que tudo está bem. Só que não está. Não está enquanto houver “franjas” da população”, como lhe chama Guinote, que a polícia não consegue alcançar. Aqueles que, não sendo criminosos ou sequer suspeitos, só lhe conhecem a face mais dura e desumana, porque tendo o azar de morar no local “errado”, fazer parte de comunidades estigmatizadas em tempos de polarização, são tratados como tal.
Há bairros em que as relações com a polícia são tensas, onde os moradores, mais jovens e menos jovens, não confiam e a temem, não por respeito, mas por terror. Foram essas, pelo menos, as perceções dadas a conhecer depois da morte de Odair Moniz e dos tumultos na Grande Lisboa, em relação a vários bairros da Amadora. E que não são novidade.
Acreditando no que nos disse este oficial de polícia, a PSP até tem “técnicas de ‘desescalagem’ de conflitos” que podem permitir aproximações e identificar pontos de contacto através de associações locais. Também têm experiências de boas-práticas em contextos demográficos e socioeconómicos semelhantes, como o programa “Gira no Bairro”, em Caxias. O sucesso deste projeto é tal que, apesar de ter começado por ser direcionado para os jovens que estavam em situação de maior vulnerabilidade, que não tinham suporte familiar, sobretudo na zona em horário pré e pós-escolar, hoje em dia é também solicitado por “famílias perfeitamente estruturadas”, cujos pais querem ali inscrever as crianças.
É esta exceção que a PSP deve tornar a regra. “Da nossa parte, temos os recursos que estão sempre disponíveis. Às vezes tem de ser as pessoas certas que conseguem trabalhar da forma correta com aquelas comunidades. Às vezes é uma questão de empatia. É uma questão de formação técnica das pessoas. Trabalhamos em Caxias como trabalhamos em qualquer outro local”, garante Hugo Guinote.
É começar a acertar o passo, não desvalorizar as críticas, reconhecer os erros e, mais que tudo, nunca deixar ninguém para trás na mais digna das missões: “Defender a legalidade democrática, garantir a segurança interna e os direitos dos cidadão” (Estatuto da PSP).
Diretora-adjunta do Diário de Notícias