Existem vacinas que previnem o cancro?

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As doenças oncológicas têm um grande impacto social, tanto em Portugal como no resto do mundo e a sua incidência tem vindo a aumentar.

Os fatores determinantes para este aumento são principalmente consequência do envelhecimento da população, mas também determinantes passíveis de modificação como a adoção de um estilo de vida saudável e a vacinação.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, as doenças oncológicas são uma das principais causas de morte, tendo sido responsáveis em 2020, por quase 10 milhões de mortes, ou seja, cerca de uma em cada 6 mortes no mundo. Em Portugal ocupam o segundo lugar nas principais causas de morte, a seguir às doenças cardiovasculares, e têm vindo a ser a principal causa de anos de vida perdidos.

Com o investimento no diagnóstico e na terapêutica das doenças oncológicas, assistiu-se a uma melhoria do prognóstico destes doentes.

Mas para além da melhoria dos cuidados de saúde, cada indivíduo pode contribuir para inverter as estatísticas. Adotar um padrão de vida ativo, com prática de atividade física, dieta alimentar rica em hortofrutícolas e fibras bem como a evicção de substâncias que comprovadamente estão relacionadas, como tabaco, álcool e a poluição e realização dos exames de rastreio nas idades recomendadas são contributos que todos devemos assumir.

Mas existem também alguns vírus relacionados com o surgimento de doenças oncológicas e para esses, está disponível outra forma de proteção - a vacinação.

O Vírus do papiloma humano está comprovadamente ligado a alguns tipos de cancro, nomeadamente do colo do útero (com o HPV a ser responsável por quase 100% de todos os casos), vagina, ânus, vulva, pénis e orofaringe e anualmente em Portugal surgem mais de 1000 casos de cancro do colo do útero.

Desde 2008, Portugal integra no Programa Nacional de Vacinação (PNV) a vacina contra infeções por HPV para raparigas e, desde 2020, para os rapazes. O PNV recomenda a sua administração aos 10 anos de idade num esquema de duas doses, embora possa ser iniciada até aos 17 anos.

Entre os 26 e os 45 anos de idade a vacinação deverá ser avaliada caso a caso. A vacina apresenta uma eficácia de 90% na prevenção das infeções por HPV, que originam lesões carcinogénicas no colo do útero.

No entanto, a vacinação não elimina a utilidade do rastreio por citologia cervicovaginal (papanicolau), com pesquisa de HPV. O papanicolau permite detetar as alterações do colo precocemente, permitindo a prevenção do cancro antes dele começar realmente.

Sabe-se que 80% dos carcinomas hepatocelulares (cancro do fígado) estão relacionados com a infeção pelo vírus da Hepatite B.

Desde 1995, o PNV passou a incluir a vacina contra o vírus da hepatite B, atingindo anualmente uma cobertura de 98%.

A primeira dose desta vacina é administrada logo ao nascimento. É habitualmente a primeira vacina do bebé. A esta toma de vacina, sucedem-se doses de reforço até aos 6 meses de idade.

Após a implementação da vacinação, observou-se uma diminuição da incidência do cancro do fígado, em alguns estudos com um valor superior a 90%, demonstrando o impacto positivo da vacinação.

A proteção conferida por estas vacinas é indireta: elas não atacam as células do cancro, mas protegem o organismo de infeções que são precursoras destes tumores e reduzem assim o seu risco de aparecimento.

As vacinas contra a Hepatite B e contra o HPV são seguras e não estão associadas ao aparecimento de outras doenças. O principal efeito adverso é a dor e inchaço no local da picada, transitórios e normalmente pouco intensos.

Aconselhe-se com o seu profissional de saúde sobre a vacinação, a informação é essencial e a adesão à vacinação por cada um de nós é de crucial importância, uma vez que, juntamente com o estilo de vida saudável, são as intervenções que dependem de cada indivíduo para dar mais saúde aos anos que estamos a ganhar pelo aumento da esperança de vida.


Vice-presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar

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