Exercício NATO Steadfast Defender 21
O exercício NATO Steadfast Defender 21 é um sinal de uma mudança estratégica da Aliança que importa salientar: o regresso do Atlântico Norte como prioridade coletiva central.
Tal como foi reconhecido, de forma categórica, pelo recém-aprovado conceito para a dissuasão e defesa da área euro-atlântica, o controlo do Atlântico não pode continuar a ser tido como garantido, como tem sido nas últimas décadas.
Este facto é facilmente comprovado pela análise de quatro tendências estratégicas que moldam o contexto de segurança global e que têm sido aceleradas pela situação pandémica.
A primeira diz respeito à intensificação da competição geopolítica com a China e a Rússia e ao aumento da presença das suas frotas navais desde o Ártico até ao Atlântico Sul, conduzindo ao reforço das intervenções marítimas da Aliança, com vista à preservação das linhas de comunicação, essenciais para o comércio marítimo e para o reforço do território europeu. É precisamente isso que foi treinado no Steadfast Defender.
A segunda refere-se à crescente exploração maliciosa da informação, que obriga ao reforço da comunicação estratégica e da ciberdefesa, assim como à proteção dos cabos submarinos, que garantem serviços de internet vitais às nossas sociedades, ameaçados pela atividade russa no Atlântico Norte.
A terceira foca-se no aumento da pobreza e instabilidade em áreas de interesse estratégico, permitindo o ressurgimento do terrorismo, do crime organizado e da migração irregular, exigindo à NATO a manutenção de um papel ativo na área da segurança cooperativa e da gestão de crises, e uma atenção acrescida ao golfo da Guiné, região que liga o Atlântico Norte e Sul.
A quarta e última tendência é a maior prioridade que a comunidade internacional dará ao combate às alterações climáticas, para o qual a proteção dos oceanos é fundamental, exigindo uma maior cooperação entre aliados, muito para além do domínio militar.
Estas quatro orientações e desafios têm um denominador comum: a importância vital do controlo do Atlântico, oceano que dá nome à Aliança, que ganhou nova prioridade, não apenas através do conceito para a dissuasão e defesa da área euro-atlântica, mas também com a reativação da segunda esquadra americana e com a criação do Comando de Forças Conjuntas da NATO em Norfolk, para o qual o Steadfast Defender se revelou como um importante contributo para a sua tão esperada capacitação operacional.
Este exercício também reforçou a importância das Forças Navais Permanentes da NATO, para as quais Portugal tem dado um inquestionável contributo e com as quais continuaremos totalmente comprometidos, integrando o esforço da Aliança para garantir a segurança da região do Atlântico.
É neste contexto que os Açores, com a sua extraordinária localização geográfica, voltarão a ter um relevante papel estratégico na dissuasão, defesa e proteção desta área de vital importância para a ligação transatlântica.
Por essa razão, Portugal inaugurou o Atlantic Center na ilha Terceira, com a intenção de unir nações dos quatro continentes com interesses comuns na área do Atlântico Norte e Sul, promovendo a sua segurança e sustentabilidade e contribuindo para o importante trabalho de capacitação de parceiros desenvolvido pelo Hub do Sul da NATO, em Nápoles.
O exercício aeronaval NATO Steadfast Defender 21 reuniu esforços coletivos em prol de uma região atlântica mais segura, afigurando-se como um importante contributo para o reforço da capacidade da Aliança para atuar globalmente e para se tornar mais capaz na dissuasão e na defesa da área euro-atlântica.
Almirante,
Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas.