Nestas Eleições Europeias, a direita, no seu conjunto, acabou por ganhar em número de deputados nacionais (11 em 21 eurodeputados no total), com a extrema-direita a desinsuflar. Uma excelente campanha de João Cotrim Figueiredo traduziu-se num excelente resultado para a Iniciativa Liberal, elegendo os seus primeiros dois eurodeputados. Por oposição, o Chega saiu derrotado nas suas expectativas de crescimento, mas - mais do que disse Nuno Melo, presidente do CDS-PP, que “ser muleta do PS em Portugal não compensa” - a grande razão que se evidencia é que o partido de André Ventura mobiliza o voto do castigo em Portugal, e na Europa os portugueses não sentem necessidade de “drama”, como disse António Vitorino, antigo comissário europeu por Portugal, num comentário televisivo. Elegendo também dois eurodeputados, o Chega mostrou bem que representa o voto dos descontentes com o sistema político português..Estas são as duas forças políticas estreantes no Parlamento Europeu, que não chegaram a roubar votos à AD, que ficou em segundo lugar e acabou por eleger sete eurodeputados (seis pelo PSD e um pelo CDS-PP)..Na leitura política nacional, o primeiro-ministro e líder social-democrata frisou que os portugueses “podem contar com um Governo e uma AD a cumprir todos os seus compromissos”, contra o que muitos diziam quando o Executivo assumiu funções ser “um Governo de inação” e que não iria cumprir as suas promessas. Luís Montenegro assume que não cumpriu o objetivo de vencer esta eleição, mas que a AD vai prosseguir “nos próximos anos” com a caminhada chegada até aqui, com quatro eleições anteriores ganhas. “Se o Parlamento não rejeita o Programa do Governo é porque assume que nós o vamos executar.”.De forma estratégica, por fim Luís Montenegro, que pertence à família do PPE, a família vencedora destas eleições, aproveitou a ocasião para manifestar também apoio a António Costa se este for candidato socialista a presidir o Conselho Europeu..Já o PS interrompe o ciclo de derrotas eleitorais de Pedro Nuno Santos, agora com a vitória nas Europeias. “Derrotámos três partidos que governam Portugal”, disse o líder do PS na noite eleitoral. “Sem o Chega, a esquerda foi nestas eleições maioritária”, acrescentou, desvalorizando assim a terceira força política mais votada nestas europeias. Pedro Nuno Santos abriu o discurso com foco na política nacional, enfatizando que foi o partido mais votado (elegendo oito deputados, com mais votos do que em 2019, mas perdendo um mandato, ainda assim)..PS e AD colocaram os seus líderes, e não os cabeças de lista às Europeias, a abrir os discursos. Ambos quiseram medir forças no Parlamento. “A derrota da AD não é irrelevante na política nacional”, disparou o líder do PS, frisando que, “ao longo das últimas semanas, tivemos um Governo em campanha”, lançando medidas sem respaldo orçamental..Pedro Nuno Santos aproveitou para afastar o “oportunismo” da AD, alertando para que não ignore o Parlamento que foi eleito pelos portugueses, e apresentando-se como oposição responsável, não destabilizadora da política nacional..Mais à esquerda, tanto o BE como o PCP cantaram vitória, com a eleição de um deputado cada um, ainda assim saindo derrotados face às Europeias de 2019, perdendo um deputado cada um. Já o PAN perdeu a sua representação no Parlamento Europeu e o Livre, que tinha francas expectativas na eleição de um eurodeputado, viu também goradas as suas expectativas..Tal como nas últimas Legislativas, os resultados destas Europeias mexeram com todas as forças políticas, reforçando a direita e fazendo a esquerda perder representatividade. Apesar do aumento de votantes, a abstenção ainda elevada revela como as instituições europeias estão longe dos cidadãos, apesar do muito que se tem falado, em Portugal, do PRR, por exemplo..É claro, no entanto, o sinal de vitória do PS, com Marta Temido a mostrar popularidade para alcançar votos, e fazendo com que a AD olhe para a oposição ao Governo sem jogos de oportunismo político, porque o Orçamento do Estado para 2025 ainda está longe da aprovação..A política nacional está a ferver, não dispensa o diálogo..Diretor interino do Diário de Notícias