Europa: um mercado, uma língua, um futuro

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No passado dia 9 de maio, celebrou-se o Dia da Europa, um momento para refletir sobre o projeto europeu, as suas conquistas e os desafios que enfrenta. Hoje, mais do que nunca, é urgente questionar se a Europa está a aproveitar plenamente o seu potencial ou se, pelo contrário, está a perder terreno face a outros blocos económicos, como os Estados Unidos e a China.

Olhando para as palavras recentes de Mario Draghi no Financial Times, torna-se evidente que a Europa não está a ser penalizada tanto pelas tarifas impostas pelos Estados Unidos como pelos entraves que ela própria impõe ao seu crescimento económico. Draghi identifica dois fatores principais: a fragmentação do mercado e a fraca procura interna.

A fragmentação resulta da existência de 27 mercados nacionais, cada um com as suas próprias regras, políticas fiscais e enquadramentos legais. Esta multiplicidade impede que as empresas europeias ofereçam bens e serviços de forma uniforme em todos os Estados Membros, limitando o alcance do mercado interno. Enquanto isso, os Estados Unidos operam como um mercado único há décadas, beneficiando de economias de escala que a Europa ainda não consegue replicar.

Em segundo lugar, a fraca procura interna é um reflexo direto de políticas orçamentais e monetárias excessivamente restritivas. Enquanto os EUA injetaram 14 triliões de euros na economia desde 2009, a União Europeia ficou-se pelos 1,5 triliões. Com mercados internos fragmentados e pouco dinâmicos, as empresas europeias procuraram a sua salvação nos mercados externos, gerando excedentes comerciais impressionantes. Contudo, agora que a globalização está a mostrar sinais de retração, essa dependência externa revela-se uma fragilidade estratégica.

Mas a Europa tem escolha. Pode decidir abandonar o modelo fragmentado e avançar para uma verdadeira integração, consolidando o mercado interno e adotando uma política orçamental comum que fomente o investimento em inovação e I&D. Mais do que harmonizar apenas a moeda, a Europa precisa de harmonizar a sua língua e fortalecer a relação entre os setores público e privado.

Imaginemos um mercado interno onde as empresas podem competir sem as barreiras burocráticas dos mercados nacionais, onde os contratos públicos estão desenhados para atrair investimento privado em setores estratégicos como a transição energética e a digitalização, e onde uma língua comum facilita a circulação de pessoas e bens. Esse é o caminho para uma Europa mais competitiva, menos dependente do exterior e mais preparada para os desafios do século XXI.

A questão, portanto, não é apenas como a Europa vai recuperar o tempo perdido, mas sim se está disposta a escolher um futuro em que o mercado interno é o motor, e não apenas uma coleção de mercados nacionais desconexos.

Professor catedrático

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