Estudantes universitários à beira de um ataque de nervos
Muitos alunos do ensino superior sentem ansiedade, depressão e stress tóxico. Estão desmotivados, cansados, têm dificuldades em dormir e recorrem, não raras vezes, a medicação psicotrópica como forma de lidar com a situação.
Um estudo recentemente divulgado e realizado pelo Observatório dos Ambientes de Aprendizagem Saudáveis e Participação Juvenil, e que envolveu mais de 2300 estudantes entre os 17 e os 35 anos de idade, revela dados muito preocupantes e que nos obrigam a uma reflexão conjunta.
Sabemos que o ensino superior carrega consigo um conjunto de desafios e que, naturalmente, tem de ser exigente – afinal de contas, é lá que se formam os futuros profissionais de tantas e tantas áreas que, amanhã, irão mergulhar na vida real daquele que é o mundo do trabalho. Para tal, precisam de um conjunto vasto de conhecimentos e competências, de treino e ensaio, de modelos e feedback.
Sabemos ainda que a motivação é a principal força motriz de todo este percurso académico – e muitos alunos sentem-se profundamente desmotivados. Alguns estão também longe do seu país e da sua família, outros vivenciam dificuldades económicas…
E é neste contexto que surge o stress tóxico, em que se sente uma enorme discrepância entre os recursos disponíveis e as exigências da situação. O stress pode manifestar-se com sintomas cognitivos (p. ex., preocupação constante, dificuldades de atenção e concentração), emocionais (p. ex., ansiedade, medo, tristeza, pessimismo, humor depressivo), comportamentais (p. ex., isolamento social, envolvimento em comportamentos de risco, consumo de substâncias) ou mesmo físicos (p. ex., fadiga persistente, dores de cabeça constantes, insónias, perturbações alimentares, tensão muscular).
Se pensarmos numa lógica remediativa, encaminhamos os estudantes que já exibem sintomatologia para consultas de Psicologia - quase inacessíveis no Sistema Nacional de Saúde, o que reforça a importância do recente Cheque Psicólogo, pese embora as limitações deste (dado o número de consultas disponíveis que não permitem, de forma alguma, uma intervenção terapêutica mais aprofundada). Pensamos ainda na medicação que, apesar de imprescindível em muitas situações, noutras tantas poderia ser substituída por outro tipo de abordagem.
Mas se pensarmos numa lógica preventiva, então temos de alargar o olhar e colocar no horizonte uma estratégia de promoção da saúde mental desde o ensino básico, que capacite as crianças e os jovens – futuros alunos do ensino superior – com um conjunto
de ferramentas que lhes permitam prevenir o stress e lidar mais eficazmente com os desafios inerentes ao percurso escolar.
Colocar o foco na prevenção equivale ainda a ajudar, desde cedo, os alunos a estabelecerem objetivos realistas e a desenvolverem métodos de estudo ajustados, definindo as prioridades e promovendo o seu autocuidado – com uma boa higiene do sono, hábitos alimentares saudáveis, a prática de exercício físico regular e um tempo para relaxar e conviver.
Por fim, colocar o foco na prevenção é ainda repensar o modelo de ensino, aceitando que os alunos de hoje são muito diferentes dos alunos “do nosso tempo”, aqueles que muitos de nós fomos. Hoje os alunos desejam, e bem, um envolvimento mais ativo e participativo na vida académica e dispensam longas aulas expositivas em que o professor mal os olha nos olhos. Querem apreender os conteúdos, claro, mas também debater, discutir, refletir, questionar, explorar. Desejam-se ainda instituições que saibam acolher e integrar os seus alunos, especialmente os que estão deslocados e que trazem consigo toda uma bagagem que nem sempre é favorável.
Temos muitos alunos à beira de um ataque de nervos e é preciso, sobretudo, prevenir.
Psicóloga clínica e forense, terapeuta familiar e de casal