Estamos a entrar na era do declínio populacional
Apesar de a ONU considerar, nas suas últimas projeções, que a população mundial continuará a crescer até atingir o seu pico em 2084, com 10,4 mil milhões (mM), algumas projeções corrigidas - do Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME) e do International Institute for Applied Systems Analysis (IIASA) - estimam que tal ocorrerá em 2064 (com 9,7mM, IHME) ou em 2070 (com 9,4mM, IIASA). Se o cenário prevalecente for o de baixa fertilidade [da ONU], o pico deverá ser por volta de 2050.
Nas últimas décadas, apesar de as taxas de natalidade terem diminuído globalmente, em alguns países (ex: na África Subsariana) as taxas de fertilidade continuam altas. Todavia, na maioria dos países do mundo as taxas de fertilidade são baixas e em muitos a mortalidade líquida é >0.
Um bom exemplo é a China que teve, em 2022, a primeira redução da sua população (-0,85 milhões) desde 1961, como corolário da queda a pique da sua taxa de fertilidade (1,01nascimentos/mulher). O mesmo sucede em muitos países desenvolvidos, como o Japão, a Coreia da Sul, e a generalidade dos países europeus - sobretudo do Leste europeu, como resultado de emigração e baixa imigração.
Tudo indica que as baixas taxas de fertilidade vão manter-se, como resultado de um maior acesso das mulheres à Educação, do acesso à contraceção e de mudanças de estilo de vida. As tentativas dos Governos para incentivarem a natalidade não se têm revelado frutíferas. Pelo que se tem optado por políticas para diminuir a emigração e permitir a imigração. Com preferência por imigrantes jovens, com filhos ou em idade fértil, atento ao envelhecimento das sociedades destes países desenvolvidos.
Em muitos países desenvolvidos, a forte emigração e a fraca imigração conduzem a uma significativa redução populacional; até 2050, estima-se que muitos dos países europeus diminuam a população: Bulgária (-22,5%), Lituânia (-22,1%), Letónia (-21,6%), Ucrânia (-19,5%), Sérvia (-18,9%), Bósnia (-18,2%), Croácia (-18%), Moldávia (-16,7%), Albânia (-15,8%), Roménia (-15,5%), Grécia (-13,4%), Estónia (-12,7%), Hungria (-12,3%), Polónia (-12%), Geórgia (-11,8%), Portugal (-10,9%), Macedónia do Norte (-10,9%), Itália (-10,1%).
Também em países onde existe resistência da população autóctone à imigração, deverá ocorrer uma rápida redução populacional. P. ex., até 2050 o Japão deve ter a sua população diminuída 16,3%, sucedendo o mesmo com a China (-13,7%).
Em suma, pela primeira vez desde a Peste Negra (1343-1353), a população da Terra está prestes a diminuir. Desta feita, não devido a doenças contraídas, mas essencialmente pelas opções das pessoas.
Em boa parte dos países desenvolvidos essa redução da população será célere. Temos de preparar a nossa sociedade para a ajustar a esta nova realidade, que vai acarretar muitas alterações à nossa forma de viver.
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