Estados Unidos da América. Um nova oligarquia no Mundo?
É Bernie Sanders, senador do partido democrata nos Estados Unidos, com 83 anos de idade, quem percorre o país alertando os norte-americanos para as brutais transformações que um dos faróis da democracia e a maior potência mundial está a sofrer, colocando-a numa trajetória rumo a uma oligarquia ditatorial sob a batuta de Trump. Bernie Sanders é um velho membro do partido democrata, situado mais à esquerda, e um defensor indefetível da componente social operária que, durante anos, foi um dos principais suportes do partido democrata. Em Dever, no Colorado, a sua mensagem desesperada faz-se ouvir no pedido aos cidadãos norte-americanos para que façam tudo para que os Estados Unidos continuem a ser uma democracia.
É lamentável que o combate do partido democrata, de facto com enormes responsabilidades na situação em que, atualmente, se encontra os Estados Unidos, se reduza quase à ação de um resistente de 83 anos. Não se sabe o que é feito de Obama! Não se vislumbram no Partido Democrata sinais consequentes e fortes de uma resistência à trajetória ditatorial que Donald Trump prossegue. Além de Bernie Sanders não há mais nenhuma das prestigiadas figuras dos democratas a dar a cara no combate a Trump!
Entretanto persistem atitudes preocupantes das autoridades (algumas) norte-americanas no sentido da consolidação de um regime de ditadura. Recentemente o jornal francês Le Monde deu conta do estranho episódio de um investigador francês, da CRS ( Companhia Republicana de Segurança) que ficou retido no Aeroporto de Houston, impedido de desembarcar nos Estados Unidos e forçado a regressar a França. Sem revelar a sua identidade, o ministro francês do Ensino Superior, Philippe Baptiste, acusou as autoridades norte-americanas de atitudes prepotentes em relação ao investigador. Este foi acusado pela polícia do aeroporto de ter enviado por WhatsApp a colegas e amigos seus, mensagens críticas sobre a política de Trump. As autoridades norte-americanas no Aeroporto de Houston vasculharam, sem qualquer mandato judicial, as mensagens telefónicas e o e-mail do investigador francês que foi depois forçado a regressar a França acusado de ter na sua posse informação confidencial.
É um estranho e preocupante percurso de um país que, até há meses, era considerado um farol da democracia e é hoje olhado, potencialmente, como mais uma oligarquia mundial com tudo o que de pior essas regimes arrastam.
Entretanto a pressão imperialista dos Estados Unidos faz-se sentir em várias latitudes. Esta semana aterrou em Nuuk, capital da Gronelândia, o vice-presidente norte-americano, J.D. Vance, a sua mulher acompanhada do filho, do conselheiro de Segurança Nacional Mike Waltz e Chris Wright, secretário de Estado da Energia. Naturalmente que esta “visita turística” foi imediatamente entendida como “uma interferência estrangeira” e uma provocação pelas autoridades gronelandesas e pela Dinamarca, num contexto em que Trump faz sistemáticas declarações no sentido da tomada de posse da Gronelândia, “custe o que custar”.
No seu percurso ditatorial Trump não respeita nada. Nem o Direito Internacional, nem a Nato.
Entretanto a situação financeira nos Estados Unidos vai-se degradando com alertas sérios de preocupação das grandes empresas que, paulatinamente, vão dando conhecimento público das suas apreensões face à aplicação de novas tarifas aduaneiras. Uma nova investida neste instrumento de protecionismo alarve está agendada para o próximo dia 2 de Abril. Segundo o jornal New York Times a Toyota, que contribuiu com um milhão de dólares para a cerimónia de posse de Trump, fez chegar à Casa Branca o seu protesto pelo previsível aumento de 25% das tarifas sobre o setor automóvel. Uma preocupação partilhada pelas autoridades japonesas apreensivas pelas ordens executivas de aumento de tarifas ao México e Canadá que irão provocar o aumento de preços das mais prestigiadas marcas de automóveis japonesas como a Honda, Mazda, e Subaru, para além da citada Toyota.
Apesar de tudo, na senda dos seus objetivos oligárquicos, Trump vai encontrando bolsas de resistência. Alguns segmentos da população atacaram stands de automóveis Tesla, pegando fogo a algumas viaturas. No setor da Educação a Federação Americana de Professores e a Associação Americana de Professores Universitários processaram a Administração de Trump por este ter mandado encerrar todo o Departamento de Educação. Igualmente, do lado da Justiça, há sinais de resistência e oposição à volúpia ditatorial do antigo construtor civil hoje Presidente dos Estados Unidos.
Que, por agora, vai tendo uma passadeira vermelha no seu percurso a caminho de uma ditadura nos Estados Unidos. O impensável está a acontecer.
Jornalista