ESG, uma gestão inovadora

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"An Inconvenient Truth", o documentário americano de Al Gore, realizado por Davis Guggenheim, veio expor as proporções catastróficas da intervenção humana no meio ambiente. Mostra-nos as causas das mudanças climáticas à escala global, e serviu, desde 2006, para sensibilizar ainda mais a opinião pública internacional sobre o aumento progressivo das temperaturas nos oceanos e na atmosfera terrestre. Este documentário mostra também a urgência de adotar um conjunto de práticas sustentáveis defendidas pelos movimentos ambientalistas, desde o início dos anos oitenta que resultam depois, em 1987, no Relatório Brundtland que associa pela primeira vez a pobreza ao subdesenvolvimento e aos danos ambientais. Em 2016, Guggenheim apresenta-nos o segundo documentário: "An Inconvenient Sequel: Truth to Power" que nos coloca em frente ao abismo e à possibilidade do mundo colapsar devido ao aquecimento global.

ESG, a sigla de Environmental, Social and Governance, fixa três eixos que determinam um conjunto de ações que definem fronteiras e cruzamentos disciplinares no contexto social e ambiental alinhados com uma gestão empresarial.

As discursividades mundiais sobre ESG agitam-se positivamente pela sua relação com os 17 ODS (Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável), das Nações Unidas, e visam um compromisso com as empresas a alcançar já em 2030.

Poder-se-á dizer que temos à frente 17 metas com vista a um futuro mais sustentável e inclusivo. Avançamos para estas metas com o contributo da ciência e da tecnologia e com o percurso traçado lado a lado com o Plano de Ação para a Transição Digital que permite a transferência de conhecimento para a economia.

Chegamos, assim, a um ponto de enorme relevância para as empresas: a economia.

Daqui para a frente, o ESG irá traçar de forma significativa a conduta ética das empresas. A comunicação terá aqui um papel determinante. Mas já lá vamos. Com a consciência ambiental a densificar-se, os consumidores e os investidores podem penalizar a vários níveis uma empresa ou organização que não demonstre quaisquer preocupações com o ambiente. Chamo a atenção para o que diz George Serafeim, professor na Harvard Business School, no seu artigo ESG Integration in Investment Management: Myths and Realities, onde nos refere que o acrónimo ESG está relacionado com maiores retornos financeiros. Ora, uma empresa que exclua práticas de sustentabilidade ambiental, corre o risco de vir perder clientes e investimento.

Impõe-se uma gestão inovadora.

Vejamos. Em 2024 será obrigatório incluir no Relatório Financeiro de cada empresa toda a informação que traduza o seu alinhamento com as políticas ESG. Em 2022, todo o tecido empresarial cotado na Bolsa terá de reportar se o seu volume de negócios (CAPEX e OPEX) está alinhado com a taxonomia (sistema que classifica as finanças sustentáveis). Atualmente, esta obrigatoriedade está presente nas negociações da Banca e avaliação dos fundos de investimento da União Europeia. Tendo em conta que o setor bancário tem que justificar a concessão dos empréstimos que realiza irá, obviamente, pressionar o mercado das PME e das microempresas no sentido de obter toda a informação relativa às suas práticas ambientais nos seus diversos quadrantes.

Independentemente da escala de cada empresa, as Nações Unidas e a União Europeia colocaram os valores ESG no domínio da perceção do mundo - de um mundo mais justo, mais digno, mais inclusivo e mais sustentável - isto traduz-se num pilar incontornável de reputação.

Warren Buffett, o conhecido investidor americano e principal acionista da Berkshire Hathaway (a quinta empresa mais valiosa nas bolsas mundiais) diz o seguinte: If you lose money for the firm, I will be forgiving. If you lose reputation, I will be ruthless.

Na realidade, Warren Buffett só reforça aquilo que todos bem sabemos: o sucesso financeiro depende da boa reputação.

É, então, aqui que se situa o exercício da comunicação. Pressupõe-se que haja um ponto de intersecção entre as várias narrativas e mensagens internas e externas. Só é possível executar e conjugar as práticas sustentáveis de uma empresa através de uma abordagem comunicativa que seja esclarecedora em toda a sua diversidade e inclusão. São os meios e a forma de comunicar que asseguram a colaboração e cumprimento das políticas ESG. E é também a comunicação que assegura a reputação de uma empresa.

Neste momento, a reputação de uma empresa depende de um conjunto de práticas ambientais, sociais e de gestão que estão concentradas nas políticas ESG, e, uma gestão inovadora passa pelo reconhecimento e implementação prática destes três vetores.

Vera Teixeira da Costa, head of Communication na Raposo Bernardo & Associados - Sociedade de Advogados

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