Escritor português José Luís Peixoto visitou o Paquistão

Publicado a
Atualizado a

José Luis Peixoto, o conceituado escritor português, viajou para o Paquistão para participar na 12.ª edição do Festival Literário de Lahore (LLF) que decorreu em Lahore de 23 a 25 de Fevereiro de 2024. O LLF é um acontecimento anual de actividades literárias numa cidade que tem uma rica história de eventos culturais. A importância cultural de Lahore remonta a um milénio. Esta cidade foi berço de vários sultanatos e dinastias e inspirou gerações de artistas com influência nacional e internacional.

O LLF teve o seu início em 2013. É um dos vários festivais literários realizados regularmente em Lahore, Karachi, Islamabad e em outras cidades do Paquistão. O objetivo é reunir representantes de várias tradições artísticas do Paquistão, bem como de todo o mundo, visando promover uma tradição literária diversificada e pluralista. Dezenas de milhares de pessoas de todo o país participaram neste excecional acontecimento literário, artístico e musical que se estendeu por três dias. Escritores e artistas nacionais e estrangeiros participaram em painéis de discussão, lançamentos de livros e apresentações artísticas.

Graças à Embaixada de Portugal em Islamabad, José Peixoto é o primeiro escritor português a participar no festival. O escritor participou em dois painéis de discussão, “Escrevendo o outro: como os escritores extraem emoções dos personagens” e “Despachos de outros lugares: apresentando aos leitores novos locais através do poder das palavras”.

José Peixoto teve uma sessão exclusivamente dedicada ao seu livro “Morreste-me”. Apresentando o livro, afirmou que “este é um livro sobre luto e perda. Existe um tabu sobre esta palavra - morte, em português, que é mais significativa para mim do que a sua tradução em inglês. As pessoas temem a perda e o luto, mas o luto não é destituído de amor, porque é o amor que dá valor à perda. Eu preferiria dizer que escrevi um livro sobre o amor.”

José Peixoto disse à audiência que Portugal é o lar do Cante Alentejano, um estilo de canto polifónico que normalmente apresenta vários homens cantando múltiplas melodias ao mesmo tempo. Como a maioria dos seus romances são polifónicos, apresentando múltiplos narradores oriundos de dimensões distintas, o escritor afirmou que o Cante Alentejano foi uma inspiração para si. José Peixoto referiu ainda que, tendo ouvido Qawwali (canto tradicional de poesia mística do Paquistão), identificou uma ligação entre Cante Alentejano e o Qawwali, embora tenham origens bastante diferentes.

Depois de participar no festival em Lahore, José Peixoto viajou para Islamabad, capital do Paquistão. A Academia de Letras do Paquistão organizou uma sessão exclusiva destinada a discutir os aspectos literários da obra de Peixoto. O Embaixador de Portugal no Paquistão,Frederico da Silva, também participou nesta sessão, tendo abordado as semelhanças entre as línguas urdu e portuguesa. Por sua vez, a Presidente da Academia, Dra. Najiba Arif, destacou a importância da literatura na promoção da paz e da cooperação internacional, tendo enfatizado o papel da linguagem na compreensão dospontos de vista de cada um. Este evento foi moderado pelo Diretor Geral da Academia, Sr. Sultan Nasir.           

José Peixoto referiu a sua estreita relação com José Saramago e como Saramago o inspirou e influenciou. O escritor admirou ainda a diversidade linguística do Paquistão, com a sua pluralidade de línguas e a sua rica história literária. Respondendo a uma pergunta, Peixoto afirmou que ficção e realidade não podem ser diferenciadas de forma absoluta. As experiências e as observações pessoais desempenham um papel importante no processo criativo de um escritor. Peixoto participou ainda em sessões na NUST University e na NUML University.

A visita de Peixoto ao Paquistão proporcionou uma excelente oportunidade para os leitores do Paquistão interagirem com um escritor português talentoso, criando condições para o incremento da colaboração em atividades literárias e culturais. Tal como Razi Ahmed, CEO da LLF,tão acertadamente salientou na sessão de abertura deste festival literário, interagir com os escritores vindos de outros países é “construir pontes entre escritores paquistaneses e pessoas de todo o mundo, o que se está a tornar cada vez mais difícil. Esta é uma boa oportunidade para pessoas comuns, académicos, professores e estudantes desta região ouvirem e interagirem com alguns dos melhores autores do mundo.”

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt