Elitista, pois claro!

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No ano em que nasci (já lá vão 75 anos!), Reinaldo dos Santos, um grande e prestigiadíssimo cirurgião académico português, escreveu e disse: “O problema da formação das elites é uma questão fundamental para todas as nações, e é sobretudo um problema essencial das pequenas nações. Se não podem competir com as grandes em poder militar e financeiro, na indústria, no comércio ou na riqueza de matérias-primas, podem competir sempre no prestígio espiritual. Os homens, como as nações, não se medem aos palmos. As elites preparam-se por exemplos de amplitude na compreensão das ideias e independência e dignidade no julgar. Por tudo isto a educação não depende de programas nem horários, mas sempre e essencialmente dos mestres”.

As elites são fundamentais como motor de progresso das sociedades, e no campo específico da medicina, há que assumir que toda a educação médica deve ter como um dos seus objetivos principais a descoberta dos melhores, a fim de se recrutarem aqueles que no futuro devem ser, não só os mais competentes como os líderes da transmissão de conhecimentos. Há que acabar com o dogma de que todos somos iguais. Devemos dar a todos os jovens as mesmas oportunidades no acesso ao ensino e à cultura, mas a partir daí há que aceitar que uns poderão ser melhores que os outros. Na medicina também é assim, os mestres terão de ser selecionados entre os melhores. Não se é mestre, ou transmissor de conhecimentos, por decreto ou por nomeação. Essa seleção tem de ser feita entre pares, por júris competentes, em concursos públicos, alicerçados em carreiras dignas e exigentes. Para isso temos de ter em quem nos representa, e tem um papel fundamental na definição dessas carreiras, as qualidades que se exigem aos melhores. Temos também de ter elites no dirigismo médico, o que infelizmente nem sempre acontece. Os médicos existem para tratar com competência os nossos doentes, e hoje para que isso possa acontecer não basta a competência individual. Para doenças muito graves são exigidas equipas multidisciplinares, recursos técnicos sofisticados, e regimes de trabalho hospitalar que não se coadunam com 35 horas semanais. E temos de assumir com frontalidade, as razões do abandono médico do SNS, quer para os privados quer para o estrangeiro, é a desigualdade salarial. É com muita pena que constato essa realidade. Ambicionar atingir o topo, quer da carreira universitária quer da carreira hospitalar, já não é suficientemente atrativo. Os tempos mudaram, mais do que não termos elites suficientes, até achamos que não precisamos delas, que podemos prescindir delas. Erro fatal, vamos arrepender-nos deste comportamento e desta falta de exigência. E no caso da medicina, em particular dos médicos, vamos ter pior qualidade de vida e vamos passar a morrer mais cedo.

PS – Dicionário Houaiss da língua portuguesa: Elite= “o que há de mais valorizado e de melhor qualidade em um grupo social”.

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