Eleições nos Estados Unidos. A noiva e a besta

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5 de Novembro não será uma data importante apenas para os Estados Unidos, mas para todo o mundo. O resultado das eleições norte-americanas será decisivo para o equilíbrio mundial, e há um dado adquirido. Se Donald Trump vencer as eleições toda a humanidade estará perante o perigo de se instalar uma profunda entropia no equilibro sociológico e político do mundo.

Trump é um daqueles homens que a humanidade conhece de século em século. Uma aberração política que, infelizmente, é seguida por quase metade dos 333 milhões de norte-americanos. Mas o que se passa com os Estados Unidos? Um país que muitos, hoje, consideram à beira de uma guerra civil. Há uma parcela dos Estados Unidos que não interiorizou ainda que em décadas, sociologicamente, o país mudou. Há do lado dos apoiantes de Donald Trump uma inexplicável recusa na aceitação de que a população afro e latino americana é vital na economia e nos círculos do poder. O partido republicano perdeu o seu brilho e o sentido liberal dos seus projectos para se transformar numa emanação institucional das piores cartilhas políticas do Ku Klux Klan. O que dizer de um candidato presidencial que defendeu, perante o espanto dos seus colaboradores, a construção de um fosso de três mil quilómetros repleto de cobras e crocodilos para impedir a entrada de imigrantes nos Estados Unidos. “They are poisoning the blood of our country” grita Trump nos seus comícios referindo-se aos imigrantes. O que se passa na cabeça dos norte-americanos que seguem este tipo de narrativa? As duas bandeiras políticas de Trump são o que de mais regressivo pode haver para a Humanidade. A energia e a imigração. Trump tem um projecto de deportar 15 milhões de imigrantes que, actualmente, fazem parte do sistema económico e financeiro dos Estados Unidos. Como será isto possível? Donald Trump recusa a evidência de que a Humanidade tem de procurar inverter a questão ambiental e descobrir novas formas de energia menos poluentes e agressivas. “Drill baby drill” repete Trump nas suas acções de campanha, insistindo na continuidade da extração de combustíveis fósseis. Trump é, politicamente, um ditador. Ou no mínimo quer ser. É alguém que vai muito além da autoridade executiva no exercício da função presidencial. Donald Trump politiza as instituições independentes a seu favor, e exclusivamente a seu favor. Espalha a desinformação, ataca as comunidades independentes, fomenta a violência, não aceita resultados eleitorais e quer controlar a Justiça. O que é que falta nesta lista para termos um ditador. 

O seu projecto “Transição presidencial 2025” que conta com dez mil agentes dinamizadores, pretende instalar na Administração Pública norte-americana um alargado conjunto de “funcionários públicos” todos eles fiéis seguidores da ideologia política de Donald Trump.

O partido democrata em boa hora encontrou uma alternativa a Joe Biden com a nomeação de Kamala Harris como candidata presidencial dos democratas. O seu sorriso aberto, a sua alegria esfuziante faz falta aos Estados Unidos. O seu projecto de pôr fim ao ódio que divide o, ainda, mais importante país do mundo é uma brisa de esperança para os norte-americanos e para o mundo. Kamala não põe em perigo os alicerces da sociedade democrática onde se movimenta o mundo ocidental. Não faz desafios para que a Rússia ataque países da NATO, porque não pagam as suas contribuições para aquela organização. Com Kamala Harris a Palestina tem uma defensora de um projecto de autodeterminação que construa uma solução de paz para aquela região e ponha fim a uma carnificina como a que se verifica em Gaza. A primeira mulher afroamericana que possa vir a ser eleita para a presidência dos Estados Unidos tem sobre a imigração uma posição sensata de integração dos que procuram melhorar a sua vida na lógica do que lhes foi vendido como o sonho americano. 

Talvez que o calcanhar de Aquiles de Kamala possa ser o seu projecto económico (ainda pouco conhecido) para os Estados Unidos. Subir a carga fiscal em dez anos num valor de cinco triliões de dólares não nos parece ser a melhor trincheira para solucionar as questões financeiras que, actualmente, marcam a economia norte-americana debaixo de uma enorme pressão inflacionista. Aumentar o IRC das empresas nos Estados Unidos 21 para 28 por cento, quando o valor daquele imposto é de 25 por cento na China e de 21 por cento na União Europeia pode não ser a melhor escolha para dinamizar a economia norte-americana. É usual dizer-se que os americanos votam com a carteira. Na actual conjuntura política convém que a escolha não se limite a um mero Exel económico e que a decisão que os norte-americanos venham a tomar no dia 5 de Novembro se baseie, também, em valores civilizacionais. Nos valores que enriquecem o mundo com projectos de entendimento e compreensão humana. E não em falsas soluções que o fazem regredir para patamares de bestialidade e ódio como os que, historicamente, conhecemos noutros momentos e noutras latitudes.  

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