Eleições intercalares nos Estados Unidos – será Trump o vencedor? (1)

Donald Trump não consta no boletim de voto para as Eleições Intercalares norte-americanas de 8 de novembro de 2022, mas está muito presente neste ciclo eleitoral. Através do processo das primárias republicanas para escolher candidatos para as Intercalares, Trump provou, sem qualquer margem de dúvida, que controla o Partido Republicano, as suas recomendações levaram a vitórias em 92% das primárias.

Como podemos explicar a sua popularidade junto dos republicanos? Trump tem correspondido às expectativas do seu eleitorado, não economicamente, mas em termos de política de identidade e da questão mais importante para muitos: o aborto. Conseguiu que três ultraconservadores entrassem para o Supremo Tribunal, o que levou à anulação do direito das mulheres ao aborto, portanto, tem correspondido de forma espetacular às suas impensáveis expectativas. Os republicanos aceitam as suas fraquezas morais pessoais e demonstram ter por Trump uma lealdade pessoal, quase como um culto, seguem a sua liderança, votam nos candidatos escolhidos por ele, aceitam a sua demonização dos democratas.

E os líderes do Partido Republicano não ousam opor-se a ele.

Mitch McConnell, o poderoso líder da Minoria do Senado, afirmou, após a insurreição de 6 de janeiro de 2021, na capital norte-americana, que Trump era "prática e moralmente responsável por provocar os acontecimentos" e alegadamente disse "Se isto não é impugnável, então, não sei o que é". E o líder da Minoria da Câmara, Kevin McCarthy, ficou conhecido por ter enfrentado raivosamente Trump num telefonema durante o motim de 6 de janeiro. Contudo, ambos votaram contra a impugnação ou condenação de Trump, e McCarthy defendeu ativamente as ações de Trump a 6 de janeiro, reconstruindo a sua relação com Trump presumivelmente para assegurar que ele será Líder da Maioria da Câmara no caso provável de os republicanos ganharem o controlo da Câmara nas Eleições Intercalares.

A única líder republicana que permaneceu abertamente crítica em relação a Trump foi Liz Cheney, que pagou pela sua resistência ao ser, primeiro, afastada do seu cargo como número 3 na hierarquia republicana na Câmara, e, subsequentemente, perder a sua eleição primária para um adversário apoiado por Trump.

Trump eliminou toda a oposição republicana ao seu controlo do partido.

Contra a esmagadora evidência de que as eleições presidenciais de 2020 foram justamente ganhas por Biden, Trump proclamou claramente que ganhou as eleições, e apoiado pelos media tradicionais e sociais de direita, cerca de 70% dos republicanos acreditam nele. Ainda mais perturbador, a maioria dos candidatos republicanos nas Eleições Intercalares é negacionista eleitoral, incluindo muitos que estão praticamente certos de ganhar as eleições. Quais são as consequências quando estas pessoas e os elementos mais radicais do partido republicano, tais como a representante Marjorie Taylor Greene, que defendeu abertamente as teorias da supremacia branca e da conspiração extremista, chegam a posições de poder com o total apoio de Trump?

O amargo partidarismo não é novidade para a política norte-americana, mas Trump é o primeiro candidato derrotado numas eleições presidenciais nos EUA a não aceitar os resultados eleitorais. O Partido Republicano, tradicionalmente um dos dois partidos rivais que trabalham dentro do sistema, tornou-se o Partido Trump, opondo-se ao próprio processo político que tem permitido à democracia norte-americana funcionar durante 250 anos. Será isto um pequeno desvio no caminho da democracia dos Estados Unidos, que se autocorrigirá a seu tempo quando Trump sair de cena, ou será isto um prenúncio de um profundo enfraquecimento do processo democrático, com consequências importantes e ainda desconhecidas? Só o tempo o dirá.

Na próxima semana: Será que as sondagens acertam desta vez?

(1) - O quinto de uma série de artigos semanais sobre as eleições intercalares nos EUA, todas as segundas-feiras, em língua portuguesa, no jornal português Diário de Notícias

Autor de Rendez-Vous com a América, uma explicação do sistema eleitoral americano, presidente do American Club of Lisbon. As opiniões aqui expressas são pessoais e não do American Club of Lisbon. Para quaisquer comentários: PSL64@icloud.com

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