Educação a Distância: Atualidade e Futuro do Ensino Superior
A democratização da aprendizagem ao longo da vida é uma missão do Estado Social. A Universidade Aberta é a sua resposta mais madura e robusta. Ignorá-la é falhar o futuro.
Por muito tempo, a Educação a Distância (EaD) foi percebida em Portugal como uma resposta pontual para públicos específicos. Hoje, essa visão é obsoleta. Num país que enfrenta desafios estruturais ao nível da qualificação da população, da coesão territorial e da resposta às exigências do mercado de trabalho, a EaD deixou de ser uma alternativa: tornou-se condição essencial para o futuro do ensino superior. E é na Universidade Aberta (UAb), única universidade pública portuguesa exclusivamente dedicada a este modelo, que reside a chave para uma viragem estratégica de fundo.
A UAb não é um projeto recente nem experimental. Com mais de três décadas de existência, construiu uma pedagogia digital própria, ancorada na flexibilidade, na qualidade e na inclusão. Não improvisa soluções — aperfeiçoa modelos. Não replica o ensino presencial — transforma a experiência de aprender. A sua proposta pedagógica, centrada no estudante, apoiada por equipas multidisciplinares e uma rede nacional de centros locais bem implantada no território, permite à UAb atingir públicos historicamente excluídos do sistema tradicional: trabalhadores-estudantes, residentes em zonas remotas, emigrantes, cidadãos dos PALOP. A democratização do ensino superior ganha aqui expressão concreta.
Defender a expansão da Educação a Distância é, também, defender o cumprimento de um dos mais nobres desígnios do Estado Social: garantir o acesso universal e equitativo ao conhecimento. A aprendizagem ao longo da vida não pode ser encarada como um luxo, mas como um direito. Num mundo em permanente mutação, em que os ciclos profissionais se tornam mais curtos e exigem requalificação constante, o acesso a formação superior flexível, credível e certificada não é apenas desejável — é estrutural para a coesão económica e social do país.
A Universidade Aberta tem sido exemplar neste domínio. Tem permitido a milhares de portugueses — e cidadãos lusófonos — estudar sem interromper as suas vidas profissionais ou familiares, conciliando ritmos pessoais com exigência académica. Esta capacidade de articulação é, hoje, o diferencial decisivo para que a qualificação se torne efetiva e sustentável. A UAb representa, neste sentido, uma resposta pública de excelência à exigência de tornar o ensino superior verdadeiramente inclusivo, alinhado com o princípio da justiça social.
A Educação a Distância não é apenas uma ferramenta de democratização do ensino — é um agente ativo de inovação pedagógica e tecnológica, capaz de reduzir assimetrias regionais e promover a coesão territorial. Através de plataformas digitais avançadas, a UAb leva conhecimento a regiões onde o ensino presencial é inacessível, combatendo o despovoamento e dinamizando economias locais. A EaD estimula a criação de ecossistemas digitais em zonas rurais e periféricas, atraindo investimento em infraestruturas de conectividade e fomentando parcerias com municípios e empresas. Esta sinergia entre educação e desenvolvimento regional é crucial para um crescimento equilibrado e sustentável.
A inovação na EaD também se reflete na personalização da aprendizagem, com inteligência artificial e análise de dados a permitirem percursos educativos adaptados às necessidades de cada aluno. Esta abordagem revolucionária coloca Portugal na vanguarda da educação digital, reforçando a competitividade nacional num mundo globalizado.
Ao integrar comunidades dispersas numa mesma rede de conhecimento, a EaD fortalece a identidade nacional e a coesão social, aproximando o interior do litoral, os arquipélagos do continente e as diásporas da pátria-mãe. Num país marcado por disparidades e assimetrias, esta é uma ferramenta poderosa para unir e capacitar.
O EaD é também um pilar da transição digital, preparando os cidadãos para os empregos do futuro e reduzindo o risco de exclusão tecnológica. Num contexto pós-pandémico, onde o teletrabalho e a formação remota se normalizaram, a Universidade Aberta posiciona-se como guia de um novo paradigma educacional — mais justo, mais ágil e mais conectado com as exigências do século XXI.
A atualidade impõe decisões políticas firmes. O país não pode continuar a desperdiçar um modelo institucional que responde eficazmente à necessidade urgente de qualificação ao longo da vida. A criação de uma Rede Nacional de EaD e eLearning, partilhando custos, infraestruturas e conhecimento entre instituições públicas, permitiria escalar soluções sustentáveis sem redundâncias nem concorrência improdutiva. A UAb está, mais do que qualquer outra instituição, em posição de liderança natural nesse processo. Qualquer solução que não a coloque no centro seria politicamente incoerente e estrategicamente cega.
É incompreensível que, num país que clama por racionalização de recursos, se perpetuem duplicações desnecessárias como a plataforma NAU, quando a Universidade Aberta, com quase quatro décadas de experiência comprovada em EaD, possui todo o conhecimento técnico e pedagógico para gerir uma plataforma nacional de ensino digital. Esta fragmentação é um desperdício de fundos públicos e uma clara desarticulação estratégica. A interoperabilidade entre sistemas só se concretiza com liderança tecno-pedagógica centralizada, e a UAb, pela sua história e competência, é a instituição natural para assumir esse papel.
A Educação a Distância, quando gerida com a seriedade, é a mais pura expressão do Estado Social: quebra barreiras geográficas, democratiza oportunidades e qualifica cidadãos sem discriminações. É tempo de acabar com as soluções paralelas e investir, de vez, na única instituição pública que tem provado, ano após ano, que o EaD em Portugal pode ser um caso de sucesso — quando colocado e gerido por quem tem a “expertise” e o reconhecimento da UAb .
O EaD público de qualidade não é — e nunca pode ser — um negócio. Nenhuma instituição pública deve instrumentalizar o ensino a distância com objetivos mercantilistas, sob pena de trair a sua missão social. A Universidade Aberta prova, há anos, que é possível conciliar escala com rigor académico, sem nunca ceder à lógica mercantilista. O seu modelo assenta na inclusão, na acessibilidade e no serviço público — valores que devem definir toda a oferta formativa estatal.
Estamos em período eleitoral — um momento decisivo na definição de prioridades para os próximos anos. É imperativo que os programas eleitorais contemplem, de forma explícita, o reforço e investimento estratégico na Educação Superior a Distância. Não se trata de um custo: trata-se de investir no futuro do país, na coesão social e na qualificação dos seus cidadãos. Ignorar este eixo seria comprometer a capacidade de resposta a desafios que já são do presente.
A consolidação legislativa da EaD, incluindo referenciais claros de acreditação e financiamento específico, é uma realidade. O estigma da “fábrica de diplomas” resiste apenas onde falha a regulação e a fiscalização. Ao contrário do que se pensa, a EaD exige mais planeamento, mais rigor e mais inovação do que o ensino tradicional. A formação contínua dos docentes, a robustez das plataformas tecnológicas e a adaptação constante da oferta curricular às necessidades reais da sociedade são condições para garantir um ensino verdadeiramente transformador.
A Universidade Aberta não precisa de tutelas para inovar; precisa que o Estado reconheça, finalmente, o seu papel insubstituível. Centralizar na UAb a gestão do EaD público para públicos adultos não é uma opção — é a única forma de garantir que o dinheiro dos contribuintes serve, de facto, para garantir a qualificação de grande parte da população portuguesa.
Importa também sublinhar que a EaD é um instrumento de política externa e de projeção internacional da língua portuguesa. A UAb tem hoje estudantes em mais de 30 países, afirmando uma lógica de cooperação que alia a diplomacia educativa à construção de redes de conhecimento transnacionais. Este é um capital geopolítico que Portugal não pode negligenciar.
Não se trata apenas de responder ao presente. Trata-se de preparar o futuro com seriedade. Numa sociedade cada vez mais digital, móvel e exigente, a ideia de um ensino superior confinado ao espaço físico de um campus perdeu validade. A aprendizagem aberta, quando sustentada em qualidade e inovação, não é concessão — é estratégia. E a UAb é, neste domínio, a instituição pública que mais provas deu de maturidade, visão e capacidade de ação.
Num tempo em que a reforma do ensino superior está na agenda, ignorar esta realidade seria um erro histórico. A Educação a Distância, liderada com responsabilidade pela universidade pública que a serve desde sempre, não é apenas viável: é vital.
*Vice-reitor da Universidade Aberta