O preço incerto
A OCDE apresenta hoje as previsões para a economia portuguesa. Não vão ser boas - dificilmente poderiam sê-lo, em face do que tem acontecido, mas também do que vem de trás. Comecemos por aí. A economia já estava em travagem ao longo de 2015. Não é ideologia, são factos. No último trimestre do ano a riqueza crescera pouco mais do que um soluço (0,2%), expondo as dificuldades estruturais da economia portuguesa, agora acrescidas da formidável montanha de dívida pública que lhe tolhe ainda mais os movimentos. As dúvidas políticas sobre qual seria exatamente o novo governo e quais as suas intenções também deixaram marcas - quem investe num cenário destes? -, a que se juntou o arrefecimento global e a implosão do Banif, responsável por uma cicatriz profunda no setor financeiro. Quando um banco morre, ele pura e simplesmente não desaparece, não tem uma saída limpa (há saídas limpas?), continua a atormentar o país numa espécie de vida eterna - as obrigações incumpridas que se amontoam e exigem reparação, além da desconfiança que se espalha. É ver o que aconteceu no BES/GES. Tudo isto junto seria já um obstáculo difícil de ultrapassar para qualquer governo acabado de aterrar em funções, mas a este contexto espinhoso juntou-se o medo ideológico. O apoio do Bloco e do PCP ao governo PS terá que espécie de custo? Não se trata de um risco quantificável - por exemplo, o regresso das 35 horas na função pública tem um preço a pagar pelo Orçamento, mas as contas estão feitas, é uma questão de encontrar compensações (mais impostos, outros cortes?). O apoio regateado ao Bloco e ao PCP, partidos com intolerância visceral à economia de mercado, não é apenas um risco que se resolve com uma medida, é uma incerteza absoluta e genérica - e isso faz toda a diferença. As exigências constantes que têm sido feitas por estes partidos ameaçam tornar-se uma espécie de chantagem sem fim. Ninguém sabe ao certo quais serão as de amanhã e as do dia seguinte e as que virão depois e a seguir outra vez. Ninguém sabe quanto podem custar e que danos vão provocar pelo caminho. É esta a diferença entre risco (mensurável e até desejável) e incerteza (o desconhecido), o inimigo número um da criação de riqueza.