Economia chinesa e comércio externo em 2023
A relevância da China no comércio internacional tem vindo a aumentar continuamente. Para além da posição de relevo na importação de produtos de base, a expansão do rendimento disponível, em especial da classe média urbana, posicionou a China como um importante mercado para os exportadores de bens de consumo e industriais. Por outro lado, o setor exportador chinês cresceu significativamente, empregando c. 180 milhões de pessoas - 1/4 da força de trabalho da China urbana.
Em 2022, as exportações da China subiram 7% para um novo máximo de 3,59 biliões de dólares, batendo o recorde de 2021 de 3,36 biliões de dólares, de acordo com dados divulgados recentemente pela Administração-Geral das Alfândegas da China. As importações aumentaram 1,1% em 2022. Isso traduziu-se num excedente comercial anual de 877,6 mil milhões de dólares, superando o anterior máximo de 676,43 mil milhões de dólares em 2021. Com a China a beneficiar de um excedente da balança comercial recorde, as exportações líquidas deverão ter contribuído num terço (+1%) para o crescimento do PIB da China em 2022.
"Este ano não se pode esperar que o setor exportador seja o principal fator de crescimento da economia chinesa."
Este excedente recorde da balança comercial da China é devido às fortes exportações que impulsionaram a economia do país durante a maior parte do ano. Mas no último trimestre a situação inverteu-se; as exportações contraíram 9,9% em dezembro, na senda de uma queda de 8,7% em novembro, segundo os recentes dados alfandegários. Esta queda (acompanhada de uma diminuição similar nas importações) foi a pior desde fevereiro de 2020. Esta tendência deverá continuar em 2023. Para além de ser provável que a procura externa permaneça fraca, problemas nos setores exportadores decorrentes de sucessivas vagas de infeções de covid, também deverão ter impacto relevante na produção de muitas empresas exportadoras. A perceção dos riscos de uma recessão ou forte desaceleração global, em especial na UE e nos EUA, agrava a tendência. Pelo que é improvável que a China consiga manter um excedente da balança comercial tão elevado como em 2022. É certo que há variáveis exógenas muito incertas (ex: o preço do petróleo). Mas o mais provável é que o crescimento das exportações da China continue a abrandar e as exportações líquidas contribuam para o crescimento do PIB chinês em apenas c. +0,5-1%.
Em suma, este ano não se pode esperar que o setor exportador seja o principal fator de crescimento da economia chinesa. Manter a penetração existente ou ter uma redução pequena nos principais mercados-destino dos produtos chineses já será um bom resultado. E uma diminuta procura de produtos chineses nos principais mercados-destino pode ter repercussões também no (des)emprego nas empresas desse setor.
Não obstante, quer o governo central, quer os governos provinciais da China parecem empenhados em priorizar o crescimento do PIB acima dos 5% em 2023. Para tal suceder, é provável que o governo chinês adote medidas para aumentar a procura interna, incluindo mais despesa pública, e suspenda políticas restritivas quanto aos setores imobiliário e tecnológico e na redistribuição de rendimentos. Atenta a relevância internacional da economia chinesa, tais políticas revestem-se de especial importância para que outros blocos económicos, como a UE, possam registar também um maior crescimento.

Consultor financeiro e business developer
www.linkedin.com/in/jorgecostaoliveira