E o Congresso descansa

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O segundo mandato do governo de Dilma Rousseff (2014-2016) foi marcado por uma guerra entre o poder executivo, que ela representava, e o poder judicial, capturado na época pela Operação Lava-Jato e pelo juiz Sergio Moro, que se entretinham a destruir a reputação dos chamados “políticos tradicionais” ou, pelo menos, os “políticos tradicionais de esquerda, de centro-esquerda e até de centro-direita”.

Chegou então ao poder quem sobrou: a extrema-direita, através do até então folclórico membro do baixíssimo clero do Congresso, o deputado Jair Bolsonaro.

Sob Bolsonaro (2018-2022), que teve Sergio Moro por ano e meio como ministro da Justiça e da Segurança Pública, o clima de guerrilha entre os dois poderes referidos subiu ainda mais de tom. Ao ponto de Alexandre de Moraes, juiz do Supremo nomeado pelo governo tampão de Michel Temer (2016-2018), se ter tornado o principal alvo do bolsonarismo, acima mesmo de Lula da Silva, ou qualquer outro político, a partir do momento em que declarou guerra às fake news em massa produzidas pela extrema-direita nas redes sociais.

E agora, com Lula no poder outra vez, o Brasil deve ser o único país do mundo onde as principais manchetes não são relacionadas com o “tarifaço” de Donald Trump, por culpa das manifestações semanais da oposição bolsonarista a pedir amnistia para os vândalos do 8 de janeiro, nas ruas de Copacabana e da região da Avenida Paulista. E porque essa oposição bolsonarista passa os dias a arregimentar assinaturas para conseguir aprovar aquela amnistia, que em última análise beneficiaria sobretudo o chefe Bolsonaro, nos corredores do Congresso Nacional.

E eis-nos chegados ao ponto deste texto: enquanto a guerra entre os poderes executivo e judicial vem marcando a atualidade brasileira, o outro poder, o legislativo, faz o (pouco) que bem lhe apetece, quando lhe apetece, se lhe apetece.

Artigo de Adriana Fernandes, jornalista que acompanha a atualidade de Brasília desde o início do milénio, no jornal Folha de S. Paulo avisa em título que “o Congresso não voltou das férias e poucos estão vendo”.

No Brasil, diz-se meio a sério, meio a brincar, que o ano só começa depois do carnaval porque no hemisfério sul os meses de janeiro e de fevereiro são os do verão, das férias grandes escolares e da interrupção oficial dos trabalhos na função pública – mas no caso dos deputados e senadores, que em 2025 ainda só aprovaram, com três meses de atraso, o orçamento, o carnaval continua para lá da Páscoa, para lá do dia do trabalhador.

“As principais forças políticas hoje no Brasil anteciparam as eleições de 2026 e os parlamentares parecem nem se importar mais em não ter uma agenda robusta. Só olham para o próprio umbigo”, escreve a colunista.

No Brasil, a guerra permanente entre os poderes executivo e judicial serve, acima de tudo, ao poder legislativo, que só trabalha se motivado pelos próprios interesses.  

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