E assim vamos andando com a cabeça entre as orelhas
Portugal é cada daqueles países que corre sempre atrás dos problemas.
Não se antecipa, raramente se planifica e mesmo quando já estamos a ver o abismo pensamos muitas vezes: logo se resolve. É aquela história de sermos bons no desenrasque, mas quando o desenrascanço se aplica à escolarização das crianças a coisa torna-se mais complicada. Vem isto a propósito das notícias sobre a falta de professores, havendo neste momento umas dezenas de milhares de alunos sem professor a esta ou àquela disciplina. No ano letivo passado esta situação prolongou-se para um número de alunos significativo.
Este cenário já era projetado há anos com a reforma de dezenas de milhares de professores. Mesmo com a diminuição da população discente era mais do que previsível que acontecesse o que vemos agora acontecer. Neste meio tempo fez-se alguma coisa para valorizar a profissão docente? Tentou-se atrair jovens para profissão docente? Procurou-se estabilizar a carreira e alterar as modalidades de avaliação docente?
Agora, como já aconteceu no anterior no Governo, há algumas tentativas de ir atrás do prejuízo. Verifica-se algum esforço no sentido de integrar mais professores na carreira no sentido de deixarem de ser nómadas durante anos e anos. Há algum esforço para tentar atrair os melhores alunos para os cursos de educação com bolsas especiais para quem faz esta opção com excelentes notas. Há algum esforço no sentido de compensar o tempo de serviço perdido por parte dos professores. Será suficiente para resolver o grave problema que as escolas enfrentam hoje? E sobretudo será suficiente para melhorar a qualidade do ensino? Não sei, nem ninguém saberá responder a estas questões.
Já aqui o disse numa crónica anterior, em certos países mais inovadores, a função docente é altamente valorizada e bem paga. Por exemplo na Finlândia é mais difícil entrar para um curso de educação do que para um curso de medicina. E isto acontece porque existe a conceção de que valorizar a função docente e pensar com cuidado a formação dos professores está estreitamente ligado ao futuro e evolução de um país. Esta noção de que investir no ensino não é apenas gastar dinheiro do Orçamento do Estado, mas é investir no futuro não é de todo evidente nas opções que se tomaram nos últimos quinze anos.
O investimento na educação deve ser acompanhado, do meu ponto de vista, por um elevado grau de exigência a diversos níveis. Logo a começar pelos cursos de formação de professores que devem conseguir conjugar os trabalhos científicos mais recentes com a prática docente. Por exemplo, um trabalho de Isabel Leite e colaboradores de 2021 dá conta de falhas da formação dos professores na área da leitura a partir da análise dos currículos de várias escolas superiores de Educação e a partir desse estudo talvez fosse relevante proceder a algumas alterações. Por outro lado, a formação contínua dos professores deveria ser feita em função das necessidades sentidas pelas escolas e o seu efeito nas práticas deve ser cuidadosamente avaliado. Isto só para dar alguns exemplos.