Drones israelitas em Marrocos

O site marroquino maghreb-intelligence, deu nota esta semana de "um vento de pânico em Argel", aquando da realização da última reunião de trabalho do Alto Conselho de Segurança de 18 de Janeiro. Porquê? Porque, de acordo com o referido site, o relatório de informações apresentado ao presidente Tebboune, refere a vontade marroquina em picotar a longa fronteira leste com a vizinha Argélia com os drones recentemente adquiridos a Israel, a partir de Fevereiro. Há notícias da compra recente de 150 destes zangões (a tradução correcta de drone para português) e também de um acordo com empresas de defesa israelitas, para a instalação de duas unidades de produção em Marrocos, o que fará do Reino Cherifiano o primeiro país africano a produzir este tipo de tecnologia de ponta.

Abro aqui um parágrafo à parte para dar alguns exemplos da postura dos marroquinos, quanto ao seu plano de desenvolvimento económico, comparativo ao português, em semana que foi notícia DN "Portugal continua a ser promovido como destino barato para americanos". Aquando da pandemia, momento de dúvida mundial sobre a duração do fenómeno e da necessidade de vacinação massiva da população planetária, Marrocos comprou vacinas a todos os produtores, China, Rússia e Índia, sob condição destes futuramente instalarem unidades de produção em solo marroquino. Ou seja, o Palácio precaveu-se perante a incerteza do futuro da pandemia e dos Homens e garantiu a sua própria sobrevivência, dependendo menos dos outros, ao mesmo tempo que projectava a criação de novos postos de trabalho e se colocava na "cabeça de África" para a produção e distribuição da vacina para o continente. É este projectar que dá aos marroquinos o optimismo ao acordar que nos falta! O Acordo de Comércio Livre em vigor entre Marrocos e Estados Unidos da América (EUA) criou uma ideia nos empresários europeus que bastaria deslocalizar as suas mercadorias para Marrocos, local de onde exportariam directamente para os EUA, livre dos impostos que pagariam a partir da Europa. Errado, já que por decisão marroquina, pelo menos 70% da produção a exportar tem que ser feita em terras de Sua Majestade. Depois, o embalamento e envio ficarão a cargo da empresa exportadora, isenta do pagamento das taxas aduaneiras. Ou seja, Marrocos, tem plano e vende-se caro enquanto por cá continuamos "milionários de calças nas mãos"!

De regresso aos drones, o surgimento desta tecnologia veio alterar o paradigma dos conflitos e das guerras, por todas as razões. Esta "cavalaria ligeira" avança no terreno inimigo sem baixas, fornece informações em tempo real e pode também atacar cirurgicamente os alvos pré-definidos, ou que surjam na superfície do momento. Também permite horas de sono e descanso aos destacamentos na linha da frente ou para além das linhas inimigas, já que fica de atalaia lá no alto, enquanto o soldado pode dormir descansado em terra.

Os drones são aliás o presente e o futuro do conflito sahraoui, já que servem de instrumento de dissuasão às vontades alheias. Podem atacar (os drones)? Podem. Então porque não o fazem? Porque quem tem a mão no joystick tem a noção clara da escalada e descontrolo que tais ataques provocariam. Por isso mesmo a Argélia não fornece drones à Polisário, nem Marrocos iniciará qualquer tipo de ataques, mesmo que se venha a confirmar a instalação dos mesmos ao longo da fronteira Marrocos/Argélia. A guerra é racional e neste caso específico, o racional é fazer bluff e ficar de atalaia, não vá o diabo tecê-las!

Politólogo/Arabista
www.maghreb-machrek.pt (em reparação)
Escreve de acordo com a antiga ortografia

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