Draghi, Câmara e a criação de novas indústrias

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O Relatório Draghi sobre O Futuro da Competitividade Europeia aborda muitas questões relacionadas com o declínio da competitividade europeia, incluindo a problemática transformação do conhecimento em riqueza na UE.

Em 2012, Von Gabain defendeu reformas que permitam aos empresários, tanto dentro, como fora dos centros de investigação, desempenhar um papel decisivo. Essa mudança permitiria a transição do nosso modelo de inovação baconiano do século XVII, que se revelou ineficaz, para o modelo californiano que impulsionou os EUA (e agora a China) para o domínio tecnológico global.

Desde 2012, o que aconteceu na maioria das universidades e outros institutos de investigação na Europa foi exatamente o contrário. Uma nova “moeda” foi criada valorizando as publicações e papers mais do que qualquer outro resultado de pesquisa próxima do mundo real. Enquanto no MIT 25% dos professores criaram empresas, em Portugal (e em muitas outras partes da Europa) esse número dificilmente se aproxima do 1%. Pura e simplesmente, não há incentivos para seguir esse caminho.

Também é difícil imaginar um estudante do MIT a queixar-se de não lhe ter sido oferecido um emprego. Os seus estudantes são treinados para criar os seus próprios empregos (e para outros). Em Portugal (e noutros países da Europa) a culpa é sempre “deles” e não “de nós”. Há pouca diferença em relação à mentalidade das nossas universidades há 40 anos e agora: ainda formamos estudantes para serem funcionários de outra pessoa. O MIT (e Stanford) treinaram estudantes para criar novas indústrias desde o início dos Anos 50 no século passado.

O tipo de mentalidade de empregado “deles” é o oposto de uma visão empreendedora e criativa da economia. Na maioria dos países europeus, ainda não valorizamos o papel dos empreendedores e muito menos o de empreendedores do tipo disruptivo - aqueles que mudam o Mundo.

Em Portugal, temos um académico que propugna há 15 anos a opção que Draghi ora anuncia - o professor António Câmara, que a praticou durante décadas na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, de onde saíram incontáveis empresários e é um dos empreendedores de projetos inovadores e disruptivos na área tecnológica.

Se não queremos que a Europa fique reduzida a um parque temático, temos de mudar e promover uma revisão profunda que facilite a transformação do conhecimento em riqueza, apostando em mais investigação aplicada e numa estreita colaboração entre universidades e empresas, que potencie a criação de novas indústrias.

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