'Dois menos um é igual a dois (2-1=2)'

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O conceito de superprofessor é usado frequentemente, de modo simples, para descrever o educador que se destaca não só pela sua elevada competência educacional, mas também pela dedicação e impacto positivo na vida dos alunos, como fonte inspiradora e motivadora da aprendizagem em ambientes inclusivos, evolutivos e dinâmicos.

Neste ideal de excelência, sendo sempre bom recordar exemplos de Maria Montessori, que promoveu um ambiente de aprendizagem personalizado para incentivar a autonomia e a descoberta por parte do aluno, ou de Anne Sullivan, pela sua abordagem inovadora no ensino de pessoas com deficiência, o Ministério da Educação hoje tem a obrigação de pôr travão ao desgaste profissional, à limitação de recursos e à burocratização do ensino. Estes são os grandes limitadores.

Um professor precisa de tempo de trabalho para estabelecer relações positivas, de confiança, que sejam motivadoras e inclusivas. Não é parte do tempo letivo, é sim tempo de dedicação, de reflexão, de autoavaliação do educador. É parte integrante das suas funções, isso é inequívoco. Por isso, faz parte de um horário de trabalho preparatório, que carece também de investimento no desenvolvimento profissional, através de ações de formação, do enriquecimento curricular. Faz parte deste tempo estudar novas metodologias de ensino, novas abordagens, que usem, por exemplo, novas tecnologias, que sejam mais interativas, que acompanhem os interesses dos alunos - isto porque os alunos de hoje não são os mesmo de há cinco, dez, 15 anos, muita coisa mudou na sociedade e a escola tem de saber refletir isso na dinâmica diária de aprendizagem e de contacto com as crianças e adolescentes.

Superprofessor não é o educador que acumula mais horas de aulas.

O ministro da tutela, Fernando Alexandre, enviou às escolas um guião de apoio à organização do novo ano letivo. Há uma prioridade óbvia: evitar que os alunos fiquem longos períodos sem aulas numa determinada disciplina (os chamados furos). Havendo um objetivo legítimo, é preciso refletir sobre o meio para o alcançar. Diz o Ministério da Educação que as escolas devem planear as turmas com professores em “suplência”, ou seja, que tenham no seu horário uma turma extra, que terão de lecionar caso sejam chamados a substituir um colega.

Pode até resolver, mas o perigo aqui será não se entender a importância do superprofessor na sociedade, na preparação de futuras gerações, dos valores que lhes são transmitidos e nas limitações que lhes são impostas. Poderíamos sempre argumentar que é pior ficar sem aulas, e por isso devemos dar-nos por felizes com uma meia-solução, com o resultado de uma conta de matemática de dois menos um é igual a dois (2-1=2); um racional de que se subtrairmos um professor num conjunto de dois, teremos sempre dois.

Diretor interino do Diário de Notícias

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