Do Spectrum ao GPT. Milhões de anos em meras décadas

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O microcomputador ZX Spectrum de 48K foi lançado no mercado em 1982 e o seu êxito então foi tal que, no final de novembro deste ano de 2024 a empresa RetroGames recriou a máquina de forma fiel, por 100€. Comprei uma assim que entrou em pré-reserva (como escrevi no DN) e posso afiançar que esta reprodução é incrível - no sentido em que é quase igual à original, permite gravar a progressão a meio, etc.

Quando criou o Spectrum, o britânico Sir  Clive Sinclair queria apresentar os mais jovens aos computadores pessoais e à programação. Mas foi como consola de jogos que o aparelho teve êxito. Os programadores, com muita imaginação, conseguiam retirar das enormes limitações de hardware  tudo o que podiam e fizeram história.

Para se ter uma ideia de quanto a computação avançou em 42 anos: o Spectrum tinha um pequeno processador, designado Z80, de 8 bits, a 3,5Mhz. Quantas operações por segundo fazia? Hoje costuma falar-se em “operações de vírgula flutuante”, FLOPS, na sigla inglesa, e o Spectrum não tinha uma unidade de processamento dedicado a esta operação, pelo que é necessário estimá-lo... conservadoramente assumamos que era capaz de 1000 FLOPS por segundo. 

Ora a “rede neuronal” do ChatGPT (uma das mais avançadas do mundo) necessitou - diz a própria - de 2,15 x 10^25 (aquele número seguido de 25 zeros) de operações destas para ser treinada.

Contas feitas, seriam necessários 8,2 triliões de Spectruns  a funcionar em simultâneo durante um mês (sem nenhum avariar) para treinar o ChatGPT! (Ideia do utilizador Dobos László, do grupo fãs ZX Spectrum do Facebook.)

O ponto fulcral aqui é demonstrar como as máquinas evoluíram em décadas o que, na natureza, requer milhões de anos. Esta segunda-feira, na conferência DN sobre cibersegurança, muitos especialistas referiram - corretamente - quão na linha da frente Portugal está a este nível. Só que tudo isto está ainda a dar os primeiros passos.

Ainda no outro dia, a especialista do MIT na-May O’Reilly me dizia que a IA vai conseguir antecipar o que farão os atacantes antes sequer de eles agirem. Isto, quase de certeza, ainda durante a minha vida. 

Que sorte tenho de poder assistir a tudo isto!

Editor do Diário de Notícias

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