Do governo ao Conselho Europeu
Ter António Costa a presidir ao Conselho Europeu é bom para o ex-primeiro-ministro num cargo de sonho e para a imagem de Portugal na Europa; mas será bom para as ambições políticas de Pedro Nuno Santos? Seguramente que quando o secretário-geral do PS declarou que são “boas notícias para a Europa, para Portugal e para os socialistas” estava a ser objetivo em relação ao “político mais bem preparado” para assumir a presidência, António Costa. Mas se pensarmos no papel de Pedro Nuno Santos na liderança da oposição ao governo de Luís Montenegro, qual será o impacto desta escolha, atendendo à necessidade de manter a estabilidade política nacional?
Como sabemos, o Orçamento do Estado para 2025 (OE 2025) é o próximo grande desafio que opõe Pedro Nuno Santos à Aliança Democrática e que, em caso de chumbo, renovaria as ambições políticas do secretário-geral do PS à frente de um novo governo no curto prazo. Por outro lado, contribuir para um cenário destes seria uma fonte de instabilidade política em Portugal. Ora, se aos olhos das altas instituições europeias António Costa se assumiu como “o garante da estabilidade”, está ou não Pedro Nuno Santos condicionado na sua ação, pelo menos nos próximos meses?
Não se pode, no entanto, fazer pender todo o peso sobre Pedro Nuno Santos, porque também não é certo que Luís Montenegro se coloque numa posição de diálogo que permita aos dois maiores partidos da oposição negociar algumas propostas para o OE 2025 que julguem necessárias – isto porque o atual momento político também não permite esticar a corda ao Executivo em relação ao PS e ao Chega, sendo que o partido de André Ventura nada tem a perder.
Ou seja, com Pedro Nuno Santos condicionado na sua ação, só se Luís Montenegro não quisesse negociar é que haveria uma verdadeira hecatombe política.
O governo de António Costa teve o mérito de colocar as contas públicas no bom caminho. E, na semana passada, a Comissão Europeia felicitou Portugal, depois de vários anos de aperto e de até ter registado défice excessivo, “pelo seu desempenho económico em termos de resolução dos seus desequilíbrios, e, de facto, a conclusão é que Portugal já não regista desequilíbrios e isso está ligado, mas não só, também a um desempenho orçamental muito forte”, declarou Valdis Dombrovskis, vice-presidente executivo da Comissão Europeia.
António Costa soma, assim, uma sequência de vitórias, num momento em que o processo Infuencer ainda é bastante incómodo para o ex-primeiro-ministro. Deixar brilhar estes troféus deixa Pedro Nuno Santos sem grande espaço de manobra.
Luís Montenegro, por seu lado, já tinha oportunamente aproveitado a leitura dos resultados das eleições europeias para manifestar apoio a António Costa para o Conselho Europeu. “Se o Dr. António Costa for candidato a esse lugar, a AD e o governo de Portugal não só apoiarão como farão tudo para que essa candidatura possa ter sucesso.” Será que a escolha do momento da declaração, no discurso onde reconheceu a derrota nas europeias, seria já uma tentativa de o primeiro-ministro tirar o tapete ao secretário-geral do PS?