As eleições legislativas de 2025 em Lisboa revelaram um fenómeno sociológico que importa compreender; foi em várias freguesias com forte presença de bairros municipais, historicamente dependentes de políticas públicas de habitação, apoio social e subsídios, que o discurso do Chega teve maior adesão.Alguns poderiam querer afirmar que este voto veio de moradores exteriores aos bairros, críticos da sua manutenção. Mas a análise mais detalhada demonstra precisamente o contrário: são as secções de voto nesses bairros municipais que concentraram as maiores votações no Chega, e não as localizadas fora.Ou seja, o voto “chega” de dentro, daqueles que vivem o dia a dia das fragilidades sociais, inseguranças e desigualdades acumuladas.Por isso, como compreender que muitos dos que dependem de políticas públicas de habitação e apoio social votem num partido que promete extingui-las?Durante décadas, a esquerda construiu nestes bairros uma relação de dependência tutelar. Alimentou-os de um Estado Social que garantia subsistência, mas perpetuava uma exclusão social não-resolvida. Muitos destes eleitores viveram presos num sistema que lhes assegurava o mínimo, mas lhes negava verdadeira integração.Como numa Síndrome de Estocolmo política, viam na esquerda a mão que dava, esquecendo que era também a mão que os mantinha reféns do assistencialismo.Os bairros que representavam a oportunidade de um recomeço a quem a vida havia sido madrasta, estruturas que devem ser de reabilitação e não de perpetuação, foram transformadas pela esquerda em verdadeiras “prisões sociais”.E, curiosamente, o Chega surge agora como o “libertador” dessa prisão. Oferece-lhes um discurso emocional de rutura: promete cortar apoios, apresentando-se como o único que os ouve.Numa distinção perversa entre os “merecedores” e os “abusadores”, canaliza a frustração acumulada para terceiros - imigrantes, vizinhos, “os outros” - como supostos responsáveis pela degradação do sistema.Muitos, na ânsia de romper com décadas de “tutela”, não percebem que o Chega não visa a sua emancipação, mas a sua eliminação política e social. Não são os seus salvadores - são, em última análise, os seus exterminadores. Não pretendem que as pessoas possam evoluir, pretende apenas terminar com esta solução civilizacional importante.A verdadeira alternativa não passa nem pelo prolongamento do assistencialismo (esquerda), nem pela fúria punitiva do populismo (CH). Passa por políticas firmes, justas e exigentes de responsabilização, como Carlos Moedas tem vindo a aplicar em Lisboa: responsabilizar os prevaricadores, mas integrar e dignificar quem cumpre, promovendo igualdade na cidade - não como “coitadinhos”, mas como cidadãos de pleno direito.Sem falsidades ou populismos, Carlos Moedas tem construído o verdadeiro caminho da sua libertação, para que esses Lisboetas não passem do cativeiro à ilusão. Presidente da Concelhia do PSD em Lisboa