Do Cais do Sodré até Washington

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No passado sábado, a partir do Cais do Sodré, as ruas de Lisboa encheram-se com a voz do povo reclamando paz, exigindo o fim da guerra, do militarismo, da corrida aos armamentos, o respeito pelos direitos dos povos e pelo Direito Internacional.

Esta afirmação expressiva de comprometimento do povo português com a luta pela paz é de um valor imenso. Ela revela uma compreensão clara de que, perante os riscos inegáveis de escalada global da guerra, a luta pela paz é, de facto, uma das questões mais urgentes do nosso tempo, e justifica toda a mobilização popular.

Esta manifestação foi uma importante acção de denúncia da acção de quem é responsável, cúmplice ou conivente com o militarismo e a guerra, e de rejeição das opções políticas que sustentam esse caminho.

Foi uma das mais importantes declarações feitas em Portugal em torno da tomada de posse do novo presidente norte-americano, Donald Trump.

As responsabilidades das administrações norte-americanas na guerra são pesadas e estendem-se por todo o mundo, da Palestina à Ucrânia ou ao Iémen.

Tal como noutros momentos da História da Humanidade, a potência mundial decadente encontra na guerra o derradeiro instrumento a que recorre para manter a sua hegemonia.

Perante a incapacidade de manter o seu domínio por outras vias, é pela força das armas que os EUA procuram contrariar o seu declínio e manter a sua posição hegemónica.

Por todo o mundo encontramos exemplos, uns mais directos outros mais dissimulados, dessa acção. Nuns casos com a instigação aberta de conflitos e confrontos militares, noutros casos recorrendo à acção indirecta através da guerra por procuração. Nuns casos abertamente a partir da Administração norte-americana, noutros casos agindo através da NATO, e sempre com a cumplicidade da União Europeia a partir da posição subalternizada em que esta se tem colocado.

O genocídio do povo palestiniano por Israel é uma das mais cruéis e desumanas expressões das linhas com que se tece a teia de responsabilidades, cumplicidades e conivências de aquém e além Atlântico.

A propaganda vende, em cada situação, um pretexto feito à medida para justificar a guerra. A ciência e a tecnologia multiplicam o efeito devastador dos armamentos. As fábricas produzem quantidades inimagináveis de equipamentos militares e munições. O discurso político dominante sustenta abertamente que é preciso desviar recursos orçamentais da saúde e das pensões para o militarismo. O negócio multimilionário da guerra multiplica-se.

De uma forma ou de outra, sempre visando a manutenção da posição hegemónica dos EUA e em benefício do seu complexo industrial-militar.

A história presidencial norte-americana - incluindo a da primeira “encarnação” de Trump como presidente dos EUA - revela essas opções como património comum de diferentes administrações.

Vista à escala do futuro, a luta do povo português pela paz é um grito que se faz ouvir do Cais do Sodré até Washington.

Eurodeputado.

Escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico

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