Do Anti-Keynesianismo
Muitos foram os autores que criticaram o Keynesianismo, sendo, todavia, certo que os contributos de John Maynard Keynes marcaram uma nova Era na produção da Teoria Económica, dando, de alguma forma, origem ao que se convencionou designar de Macroeconomia.
As principais críticas ao keynesianismo reconduzem-se, no essencial, às seguintes:
- O efeito multiplicador do investimento que, segundo Keynes, permitia gerar emprego, distribuir rendimento, aumentar o consumo, levando a um novo incremento do investimento e a uma expansão da actividade económica, não funciona em pequenas economias abertas.
É verdade que, numa economia aberta, uma parte do acréscimo do consumo é canalizada para bens e serviços de importação, provocando um efeito multiplicador em economias estrangeiras e não na economia nacional. Mas, para que o efeito multiplicador do investimento fosse nulo seria necessário que a propensão marginal a consumir bens nacionais na economia em causa fosse zero, o que corresponde a uma lamentável simplificação analítica. Pode haver uma atenuação do efeito multiplicador, mas o mesmo continua sempre a existir.
- A política económica neo-keynesiana privilegia o Sector de Bens Não Transaccionáveis -SBNT (ou de Economia Doméstica) e não o Sector de Bens Transaccionáveis - SBT, já que propende a investir na construção de estradas e de pontes e não no sector exportador.
Acontece que Keynes nunca afirmou na sua Teoria Geral do Emprego, do Juro e do Dinheiro que os programas contra-cíclicos de investimento público se deviam reconduzir à construção de estradas e de pontes, admitindo e defendendo o autor que poderia haver investimentos no SBT (i.e. no sector de exportação).
- A política neo-keynesiana privilegia sectores trabalho-intensivos, tendendo a solucionar o problema do desemprego nos segmentos de mão-de-obra não qualificada.
Nada de menos verdade. Muito embora também seja, em certas situações, necessário criar empregos no segmento de mão-de-obra não qualificada, Keynes, do mesmo modo que era favorável ao investimento público no SBNT, também defendia que se promovesse a expansão de sectores capital-intensivos ou de tipo intermédio.
- O keynesianismo questiona o princípio da igualdade entre a poupança e o investimento “ex-ante”, bem como a “Lei da Mão Invisível”, a qual assenta no princípio da flexibilidade total de preços e de salários.
É verdade que, para Keynes, a igualdade entre a poupança e o investimento se verifica “ex-post” e, portanto, ao fim de um certo período de tempo, não se pressupondo que se está, necessariamente, numa posição próxima do pleno-emprego, sendo, também, verdade que nem sempre se verifica a automaticidade dos mecanismos reequilibradores do mercado. Mankiw, Romer e Blanchard adoptaram a mesma perspectiva, admitindo que existe viscosidade nos preços e que nem sempre há coordenação dos agentes económicos nos ajustamentos da procura e da oferta, para além da consideração de aspectos político-institucionais.
- O Keynesianismo defende, por vezes, a adopção de meros paliativos.
É verdade que, tal como na medicina, por vezes é necessário adoptar paliativos. Se um doente cancerígeno terminal experimentar muitas dores, o médico não lhe vai dizer que não receita analgésicos, isto é, paliativos, mas apenas tratamentos de quimio e de radioterapia. Na economia - e nas ciências sociais, em geral -, numa situação conflitual aguda é, por vezes, necessário adoptar medidas conjunturais que amenizam o ambiente confrontacional.
- O Keynesianismo conduz ao “Estado Monstro” burocrático e ineficiente.
Os países nórdicos, com a sua concepção de Estado Social, criaram Estados fortes mas eficientes e não altamente burocráticos. Tem que ver com a concepção de funcionamento do Estado que, hoje em dia, já introduz modalidades de gestão semelhantes às do sector privado, recompensando a capacidade de inovação, o espírito de iniciativa e o mérito individual.
Eis, em suma, as principais críticas provenientes da “matriz neo-liberal”.
Críticas que nem sempre colhem, tornando-se necessário e justo reconhecer o mérito da produção teórica de Keynes que, ao fim e ao cabo, contribuiu para atenuar as próprias debilidades do sistema de economia de mercado, introduzindo-lhe ajustamentos reformadores.
Nem mais, nem menos…
Economista e professor universitário
Escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico