Diretivas da EU sobre ESG fazem sentido
Em 2026 as grandes empresas têm de apresentar, no seu relatório de gestão anual, a informação sobre as suas práticas de ESG seguindo os standards Europeus já definidos. No que diz respeito à Diretiva relativa à devida diligência em matéria de sustentabilidade das empresas, que entrou em vigor em junho de 2024, os países da UE têm até 26 de julho de 2026 para a transpor para o seu direito nacional, e as primeiras grandes empresas impactadas por esta diretiva terão de começar a cumprir e reportar em 2027.
As negociações europeias, com vários stakeholders, sobre os conteúdos de cada uma destas diretivas, já ocorreu, ajustamentos foram feitos, cedências foram aceites e o texto final foi aprovado.
Algumas das maiores empresas mundiais cotadas em bolsa, têm vindo a ajustar-se a um modelo de gestão mais sustentável, tendo investindo em recursos humanos, sistemas de informação, tecnologia e inovação, e estão prontas para acompanhar as exigências destas diretivas. No entanto, algumas outras empresas parecem não querer aceitar o resultado das negociações tendo vindo a realizar uma pressão significativa a nível Europeu para que se simplifiquem as várias diretivas de sustentabilidade. Esta pressão tem sido reportada como vinda essencialmente da Alemanha e também da Itália. Ora uma potencial simplificação a esta altura não faz sentido nenhum e só premeia aqueles que tudo fazem para fortalecerem o capitalismo extremo, e que leva ao aumento das diferenças sociais.
Há que recordar quais são os valores europeus: Dignidade Humana, Liberdade, Igualdade de Direitos, Estado de Direito e Direitos Humanos. É importante recordar também alguns dos objetivos da União Europeia: promover a paz, os seus valores e o bem-estar dos cidadãos; alcançar um desenvolvimento sustentável baseado num crescimento económico equilibrado; proteger e melhorar a qualidade do ambiente; promover o progresso científico e tecnológico; combater a exclusão social e a discriminação entre outros.
Penso que é difícil encontrar argumentos para se dizer que estes valores e objetivos não fazem sentido. A não ser que queiramos viver num contexto de guerra, exclusão social, exploração humana, discriminação humana e disparidades sociais. No entanto, nos últimos dois meses, o capitalismo extremo está a conseguir ganhar espaço e apoio, por parte daqueles empresários que se focam na ganância e na crença de que não importa fazer mal aos outros desde que se crie dinheiro para si mesmo.
Ora, algumas empresas, que fazem muitos milhões, tiveram a dignidade de escrever uma carta à Comissão Europeia reforçando a importância das Diretivas Europeias de Sustentabilidade nomeadamente a Diretiva relativa à devida diligência, que coloca responsabilidades aos membros dos conselhos de administração na forma como estes incorporam os temas de ambiente e direitos humanos nas suas decisões ao longo da cadeia de valor. Estas empresas são a Unilever, Nestlé, Ferrero entre outras.
As Diretivas Europeias sobre ESG fazem todo o sentido. São positivas para a economia, mesmo que impliquem investimentos hoje. Evitam perdas a curto, médio e longo prazo e colocam as empresas num outro patamar de evolução e de diferenciação. Até a China já publicou standards para reporte de sustentabilidade!
Toda esta oposição à incorporação dos temas ESG na gestão empresarial que temos visto nos últimos dois meses vem expor de forma bem clara a obsessão, ainda vigente, com a maximização do lucro a curto prazo e com a ausência de preocupação por parte dos gestores com os lucros futuros da empresa. Das duas uma: ou mudam-se os gestores atuais, ou existirão poucas empresas no futuro.
PhD, CEO da Systemic