Dinheiro e mais dinheiro. Para quê?
Após cada um atingir uma situação financeira boa, sabendo que esta definição varia de pessoa para pessoa, quanto mais queremos? E para quê? E o que estamos disponíveis a fazer para aumentar essa riqueza?
Todos temos momentos na nossa vida onde equacionamos as coisas. Alguns têm medo destes momentos e evitam-nos. Outros não sabem que estes momentos sequer existem, alguns acham fracos aqueles que os têm, e depois há os restantes que têm estas “crises” e lidam com elas de forma diferente. Eu tive a crise de meia idade aos 30 anos, e agora, com 50, estou a ter a crise 2.0, mas com mais experiência de vida, mais calma, mas também mais certeza. A certeza de que há algo de errado com a evolução do ser Humano, e que, enquanto eu puder e conseguir, tudo farei para aprender dia a dia a lutar contra a tendência predominante na sociedade Ocidental: ganância, egocentrismo, falta de preocupação com o outro, ausência de visão de bem-estar coletivo.
Vivemos numa Democracia onde parece que só temos Direitos e muito poucos Deveres. E os Deveres que temos, parece que se subjugam apenas à existência de obrigatoriedade legal. Parece que, como seres humanos, não temos sido capazes de ter consciência para compreender que a liberdade individual de cada um termina quando tal gera um impacto negativo no outro; não temos conseguido compreender que todos temos de nos esforçar, no nosso trabalho diário, em ser cada vez melhores, em cumprir com as regras que garantem alguma ordem na sociedade; não temos conseguido compreender que devemos agir de forma diferente quando alguém não consegue porque não quer, ou porque precisa de ajuda para evoluir, etc. Compramos uma casa e temos o Direito a fazer nela o que quisermos, mas esquecemo-nos que temos o Dever de criar boa vizinhança, e isso pode implicar não fazer, na casa, aquilo que queremos.
Em Democracia não se pode fazer tudo. Em Democracia há regras, há diálogo, há discussão, as leis mudam-se após discussão e consenso, a evolução faz-se com base no respeito por todos e não apenas com a influência de alguns. Um Governo é eleito para representar a voz da maioria da população. As pessoas podem criar empresas e geri-las, cumprindo as suas regras fiscais, e fazendo muito mais do que a lei exige.
Uma Democracia funciona se todos reconhecerem que sentimos felicidade em ver o outro feliz, e que a nossa individualidade termina quando impactamos negativamente o outro. A economia de mercado em Democracia funciona quando se consegue ter gestores iluminados, que querem obter um retorno justo pelo seu investimento, mas que também querem contribuir para um ecossistema de pessoas felizes, capazes de gerar valor para os colaboradores e comunidade onde operam. Uma economia de mercado sem a plena consciência de que o gestor tem uma função social a cumprir, vai levar a disparidades brutais na sociedade, e isso vai levar ao que está a acontecer nos EUA com a Administração Trump.
Recusando-me a acreditar que o povo americano vai ficar pacífico a ver o egoísmo ignorante do seu presidente, que já não tem legitimidade eleitoral para continuar a governar, espero que alguns dos gestores deste mundo, e do nosso pequenino Portugal, consigam ver o resultado final que o puro egoísmo pode levar. Espero que os gestores consigam ver que maximizar o lucro a todo o custo, maximizar os dividendos a todo o custo, pode encher os seus bolsos no presente, mas pode destruir a continuidade dos ecossistemas que precisam de ter resiliência para as incertezas do futuro. Talvez porque muitos dos gestores, pouco ou nada se preocupem com o futuro daquilo que estão a gerir... tal como Trump.
Estou na minha segunda crise de meia idade. Só que agora já é uma crise de 75% da minha idade. Já estou no endurance final e não me apetece ficar pacífica. Não seria agora que ficaria. E gostava de conseguir contagiar mais e mais gestores para não ficarem pacíficos, mas sim que tenham a coragem de gerir empresas para o futuro, de contribuir para a evolução positiva da civilização. Pelo menos é este o meu sonho. E vou fazer por ele!
PhD, CEO da Systemic