Dinheiro caído do Céu
É extraordinário como o desespero move as pessoas. Algumas pessoas. Há dias, um candidato à Câmara Municipal do Porto, de seu nome Aníbal Pinto, pelo partido Nova Direita, distribuiu notas de 5 euros com a ajuda de um drone sobre um grupo de pessoas – afinal eram militantes do mesmo partido – para dizer, no fundo, que, com ele, ia chover dinheiro. Aníbal Pinto, um advogado que ficou conhecido por estar ligado ao Football Leaks e ter sido condenado em 2023 a dois anos de prisão sob pena suspensa. Um processo que envolveu violação de correspondência, sabotagem informática e extorsão na forma tentada. E achará ele que isto é currículo recomendável para iniciar a vida política? Adiante. Se dúvidas houvesse, o gesto de distribuir dinheiro – e a promessa de que o irá fazer mais vezes – mostra bem a natureza eticamente reprovável do candidato. Obter o apoio público através da compra de votos não me parece algo moralmente válido. Podemos assinalar a partir deste gesto 3 grandes categorias: populismo, insensibilidade social e ética. Na primeira, fazer cair dinheiro do Céu, para além de ser um gesto de populismo bacoco e básico, ligado ao pior do que a política-espectáculo tem, reduz o discurso político ao superficial e à teatralidade, faltando substância e debate sério. Vê-se aqui um comediante, não alguém com capacidades de assumir um papel responsável. Isto prende-se com a segunda categoria, a insensibilidade social. Enquanto há pessoas que trabalham para suprir dificuldades, há um pseudo-político que anda a distribuir 5€ aos pobrezinhos. Uma falta de sensibilidade, empatia e completa irresponsabilidade social. Quanto à questão ética, auto-explica-se, mas não posso deixar de sublinhar que, apesar de não ser ilegal, subverte o espírito do que deve ser a política. Oferecer bens materiais directos em troca de votos ou influência é moral e eticamente condenável.
Mandar dinheiro dos céus corrói a natureza da política; torna-a num espectáculo de ganho pessoal. Esquece-se a importância do respeito, credibilidade, responsabilidade, justiça. É a erosão da seriedade do compromisso cívico: é dizer que vale tudo na compra de votos. É o dinheiro, não as ideias, a capacidade e a responsabilidade do candidato. É corromper o eleitor. E acham que isso é a Nova Direita? Prefiro a antiga.
Professora auxiliar da Universidade Autónoma de Lisboa e investigadora (do CIDEHUS).
Escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico