Difícil equilíbrio da governação na Madeira

Publicado a
Atualizado a

António Costa em 2015 mostrou ao país que era possível o PS, sem ter sido o partido mais votado nas Legislativas, governar apoiado pelo PCP e pelo Bloco de Esquerda. A palavra geringonça enraizou-se de tal forma, depois de ter sido usada por Vasco Pulido Valente, numa crónica sobre as eleições primárias do Partido Socialista, e por Paulo Portas a ter usado no Parlamento para designar esta coligação de esquerda, que foi considerada Palavra do Ano de 2016 pela Porto Editora. Desde então, houve sempre cenários políticos para invocar o dito vocábulo.

À boca das urnas na Madeira, muito se questionou a possibilidade de uma geringonça à esquerda (PS/JPP/BE e eventualmente PCP). E, apesar do resultado, Paulo Cafôfo, o candidato do PS-Madeira, não desistiu e considerou avançar com uma proposta alternativa de Governo (PS, JPP, PAN, CDS-PP e IL), apesar dos resultados mostrarem que tanto o BE com o PCP desapareceram, perderam os seus deputados na Assembleia Regional. Cafôfo exclui o PSD e o Chega de acordos, mas matematicamente vê esperança, atendendo a que o PSD só elegeu 19 deputados e que ele pretende agregar 20 (contando para tal com os dois deputados do CDS-PP, que já assumiu a derrota do PS-Madeira). Quanto à grande surpresa da noite, o movimento que tem origem na Madeira, Juntos Pelo Povo (JPP), elegeu nove deputados e dificilmente será solução para Cafôfo, que só tem 11.

O problema pendeu novamente para a direita. Com o seu habitual discurso, Alberto João Jardim disse a verdade: “A Madeira não pode andar a brincar ao cai Governo.”  Sem maioria absoluta, Miguel Albuquerque sobreviveu, mas sabe que é indesejável ir novamente a eleições. Precisa de estabilidade. Ele próprio o admitiu. “Estamos disponíveis para encetar um Governo com estabilidade, que aprove um Orçamento e um Programa de Governo para aprovar”, disse o reeleito presidente do Governo Regional da Madeira, que esteve muito isolado em toda a campanha e que agora tem de procurar acordos.

Élvio Sousa, candidato do JPP, já disse que procura equilíbrios, mas que “Miguel Albuquerque e o PSD estão fora da equação” para acordos.

Governando em minoria, o PSD-Madeira replica o difícil exercício da instabilidade política nacional. A Iniciativa Liberal, com um deputado, e o CDS-PP, com dois, não são suficientes para garantir a maioria absoluta. E não cairia bem a Luís Montenegro, primeiro-ministro e presidente do PSD, que Miguel Albuquerque procurasse um acordo com o Chega, que nesta noite também frustrou as suas expectativas de vitória eleitoral na Madeira, registando uma ligeira subida nos votos e mantendo os seus quatro deputados.

Não foi esta a visão de André Ventura, que mais uma vez fez frente ao PSD e se apresenta como “elemento decisivo e chave” na governação à direita. “Não há nenhuma possibilidade de acordo de governação com Miguel Albuquerque. (...) Miguel Albuquerque não tem condições políticas para se manter à frente do Governo Regional da Madeira.”

Este é o difícil equilíbrio da governação na Madeira.

Diretor interino do Diário de Notícias

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt