Dia Mundial da Obesidade: reflexões sobre a prevenção e o tratamento

O tratamento da obesidade passou por avanços significativos nos últimos 20 anos, com a introdução de novos medicamentos e de novas abordagens cirúrgicas cada vez menos invasivas. Saiba quais.
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O Dia Mundial da Obesidade, celebrado anualmente a 4 de março, procura aumentar a consciencialização sobre os impactos da obesidade na saúde global e estimular ações, não só de tratamento, mas também de prevenção. A obesidade é uma doença crónica caracterizada pelo excesso de gordura corporal, que pode afetar gravemente a saúde, aumentando o risco de aparecimento de várias comorbidades, como as doenças cardiovasculares, a diabetes tipo 2, a hipertensão, a apneia do sono e o cancro.

A obesidade é uma epidemia mundial. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais do que triplicou desde 1975 a nível global, atingindo aproximadamente 13% da população adulta mundial, com mais de 650 milhões de pessoas a serem afetadas pela obesidade. De acordo com o estudo “O custo e a carga do excesso de peso e obesidade em Portugal”, de outubro de 2021, 28,7% da população portuguesa tem obesidade – e, se incluirmos a população com excesso de peso, este número sobe para 67,6%. A obesidade não afeta apenas os adultos, mas também é cada vez mais uma preocupação crescente em crianças e adolescentes.

Investir na prevenção da obesidade é uma das medidas mais eficazes para reduzir os impactos da doença, tanto no âmbito individual quanto coletivo. A prevenção envolve mudanças comportamentais, educacionais e implementação de medidas voltadas para a promoção de hábitos de vida saudáveis.

A prevenção traz resultados a longo prazo, porque reduz não só a prevalência da obesidade, mas também os custos sociais e económicos associados à doença e às suas comorbidades. Além disso, a educação e a promoção de hábitos saudáveis desde a infância aumentam as hipóteses dessas práticas se manterem ao longo da vida adulta.

Pessoas que já sofrem de obesidade enfrentam sérios riscos à saúde, nomeadamente com o aparecimento de doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, hipertensão, apneia do sono, dislipidemia – ou excesso de gorduras no sangue – e vários tipos de cancro. Para agravar ainda mais este cenário, a obesidade é uma das principais causas de morte precoce. A cada aumento no índice de massa corporal (IMC), o risco de desenvolver essas doenças cresce significativamente, com impacto direto na qualidade e na expectativa de vida.

O tratamento da obesidade deve ser multidisciplinar, englobando profissionais de saúde como endocrinologistas e internistas, cirurgiões bariátricos, nutricionistas, psicólogos e psiquiatras. A abordagem focada no controlo do peso e na melhoria das comorbidades deve ser personalizada, levando em consideração as necessidades individuais de cada doente.

Nos últimos 20 anos, o tratamento da obesidade passou por avanços significativos. O desenvolvimento de novos medicamentos tem sido uma das principais inovações no tratamento da obesidade a par de novas abordagens cirúrgicas, cada vez menos invasivas, e da introdução de novas técnicas endoscópicas.

Quando o doente tem comorbilidades associadas, a cirurgia bariátrica e metabólica continua a ser o tratamento mais eficaz. Quando realizada em unidades hospitalares reconhecidas e por cirurgiões experientes e diferenciados, estas cirurgias têm um enorme perfil de segurança. Além das cirurgias mais habitualmente realizadas, como o bypass gástrico e o sleeve gástrico, o melhor conhecimento da doença e do seu comportamento, tem permitido a introdução de novas técnicas cirúrgicas, com abordagens minimamente invasivas, por laparoscopia ou robótica, contribuindo para uma melhor recuperação dos doentes e o regresso mais célere à vida pessoal e profissional. Nos últimos anos, a evolução do apoio da gastroenterologia também tem sido caracterizada pelos tratamentos primários, como o caso do endosleeve, indicado sobretudo para doentes sem critérios para cirurgia.

Todos os tratamentos têm os seus benefícios e desafios – e podem ser eficazes, se a expectativa dos resultados for realista. Os tratamentos farmacológicos e endoscópicos tendem a ser menos invasivos e mais adequados para uma parte da população. Por outro lado, a cirurgia bariátrica e metabólica revela-se mais eficaz no tratamento da obesidade e com resultados mais duradouros.

O Dia Mundial da Obesidade recorda-nos da importância de enfrentar esta condição com uma abordagem integrada e multidisciplinar, que envolva tanto a prevenção quanto um tratamento eficaz. A prevenção deve ser uma prioridade, com investimentos em educação, políticas públicas e promoção de hábitos saudáveis.

Para aqueles que já sofrem de obesidade clínica, o tratamento eficaz exige uma combinação de abordagens farmacológicas, cirúrgicas e comportamentais, com foco na melhoria das comorbidades e da qualidade de vida. A evolução dos tratamentos ao longo dos anos tem sido positiva. A escolha entre as terapias farmacológicas e cirúrgicas, sempre com acompanhamento médico, deve ser personalizada e, por vezes, as duas são complementares, tendo em consideração as necessidades e o histórico de cada doente.

Coordenador da Unidade de Cirurgia de Obesidade e Metabólica do Hospital CUF Porto

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