Desbloquear o caminho para a tradução em 2024: o que aí vem?
Em 2023, além de termos assistido a inúmeros avanços tecnológicos, vimos muitos Large Language Models baseados em inteligência artificial a aparecerem, como o ChatGPT – que, para muitos, substitui atualmente o famoso motor de busca Google. A incorporação destas ferramentas no dia a dia aconteceu de forma bastante natural e fazem agora parte da nossa rotina. Quando temos uma dúvida, perguntamos sem hesitar ao ChatGPT, ativamos a Siri ou a Alexa. Passada a parte de integração no quotidiano, este ano, a expectativa já é diferente, passando pela criação de novas soluções em cima destes modelos e a entrada dos existentes numa fase de teste e escala.
Os modelos de tradução automática têm-se tornado mais complexos e sofisticados ao longo dos últimos anos. Aquela que era a tradução tradicional, feita quase palavra a palavra, é agora mais avançada, sendo mesmo possível incorporar o contexto das mensagens no processo de tradução. A exatidão da tradução é agora uma necessidade, comprovada pelo exemplo recente em que surgiram inúmeras notícias na agenda mediática que retratavam o hackeamento de dados de milhões de escovas de dentes inteligentes para um ciberataque que poderia paralisar o acesso a sites de educação e saúde. Após o assunto se ter multiplicado nos media, a fonte revelou que a notícia não terá passado de um erro de tradução.
O enquadramento dado à comunicação é especialmente importante quando a transição entre idiomas inclui também a transição para uma cultura diferente. É neste sentido que surge a cultural awareness e a transcreation (junção entre tradução e criação). O objetivo dos mecanismos de transcreation é combater as diferenças culturais e de contexto no momento de tradução e de chegada da mensagem ao destinatário. Os modelos de tradução estão muitas vezes estereotipados para a cultura ocidental, surgindo uma discrepância na adequação da comunicação para diferentes culturas como para a japonesa, por exemplo.
A integração de modelos de tradução capazes de fazer esta personalização e adaptação é cada vez mais importante para as organizações. Muitos consumidores consideram mesmo abandonar negócios por terem um impacto negativo durante a experiência de apoio ao cliente, demonstrando que a sensibilidade cultural é uma necessidade.
Em 2024, as ferramentas utilizadas para a tradução serão, além de mais complexas, mais automatizadas. Com os avanços na IA generativa, em conjunto com a expertise de linguistas e nativos, será possível criar traduções de conteúdos não estereotipadas. As máquinas terão também um papel crescente em mais fases do processo, passando a haver mais machine localization, isto é, a adaptação dos conteúdos às diferentes culturas e contextos, tendo-se em conta as suas peculiaridades sem se alterar a integridade da mensagem, em vez de apenas machine translation. Neste sentido, antecipam-se também maiores investimentos e em larga escala no aperfeiçoamento da qualidade das ferramentas tecnológicas, para que se tornem mais confiáveis.
As organizações que neguem a incorporação destes processos ou que não tenham as valências necessárias para acompanhar os avanços da IA poderão mesmo ser excluídas. 2024 será o ano dessa filtragem, em que uma parte do mercado começará a desaparecer em prol destas novas soluções.
Nos últimos anos, o conceito de personalização tem sido prevalente na sociedade – já o esperamos em produtos ou serviços. A tradução não se distingue desta tendência, principalmente quando há agora a possibilidade de se ter todas as mensagens completamente adaptadas à conjuntura onde estamos inseridos. A falta de sensibilidade cultural deve deixar de existir e, com a IA ao nosso dispor, é imprescindível respeitar todas as culturas e respetivos valores.