(Des)animação noturna
Com os avanços e recuos que todos conhecemos, com os planos de desconfinamento mais ou menos conservadores, com os apoios que quase sempre tardam e são insuficientes, as mais diversas atividades económicas têm vindo a reabrir e a aproximarem-se do seu normal funcionamento. Todas, com maior ou menor dificuldade, vão fazendo o seu caminho. Todas, não! Há uma atividade que permanece esquecida e sem previsão para reabrir - a animação noturna.
Bares e discotecas, estabelecimentos comummente designados como de animação noturna, foram aqueles que, numa atitude responsável, tomaram a decisão de encerrar os seus estabelecimentos, antes mesmo da determinação legal. E assim permanecem até ao dia de hoje, passado mais de um ano com faturação zero e sem a devida compensação, enquanto assistem à reabertura de praticamente toda a atividade económica, sem que uma única palavra lhes seja dirigida.
O funcionamento de cinemas, teatros, auditórios, salas de espetáculos, e sobretudo eventos, exteriores mas também interiores, é a prova de que a abertura em segurança é possível, desde que cumpridas determinadas regras. E é isso que se pretende: que se defina um plano específico de desconfinamento para os estabelecimentos de animação noturna. Esta reabertura poderia começar, desde já, pela abertura de espaços ao ar livre, com regras atempadamente definidas, claras e bem comunicadas.
Países nossos concorrentes já apresentaram os seus planos de reabertura para os espaços noturnos, reconhecendo a mais-valia e o contributo que representam. Sabemos bem que a animação noturna é hoje um elemento fundamental para qualquer produto turístico, concorrendo decisivamente para a diferenciação de um determinado destino turístico e, assim, garantir-lhe uma vantagem competitiva. Esta nossa falha penalizará muitíssimo e em particular zonas com maior atividade noturna, que desta forma verão os seus destinos ser preteridos em benefício de outros, onde a oferta é completa e por isso mais atrativa.
A manutenção destas restrições à atividade prejudica, numa primeira linha, os próprios estabelecimentos, mas as consequências vão muito para além deles, atingindo o nosso produto turístico, como um todo, e por consequência a nossa economia, que beneficia, e muito, desta atividade. E é também por esta razão que não consigo entender, mas acima de tudo não consigo aceitar, o silêncio e o desprezo a que esta atividade foi votada.
Temos, todos, de começar a olhar e valorizar o setor da noite como uma parte importante e integrante do nosso produto turístico, e não como parente pobre, e muito menos o "marginal da família".
Estamos prestes a iniciar a época de verão, e esta pode muito bem ser a última oportunidade que o Governo tem para salvar este setor. Porque a noite, que tradicionalmente é um elogio à vida, encontra-se, ela própria, moribunda.
Se o medo e a pandemia não matar a noite, as (não) decisões, encarregar-se-ão de o fazer... É uma (des)animação!!!
Secretária-geral da AHRESP