Demasiado disponível emocionalmente
Numa série absolutamente genial e que recomendo vivamente, "Homicídios ao Domicílio", uma personagem perdidamente apaixonada por outra comentava que percebia, enfim, toda a sua angústia e sofrimento associados àquela paixão – estava há muito tempo demasiado disponível emocionalmente. E isso era um problema.
Esta é uma realidade que muitas pessoas reportam, fruto de anos e anos de solidão, tantas vezes na companhia de outras pessoas. Relações afetivas que, ao longo do tempo, se esvaziaram de conteúdo e que, ocas, criam então espaço para algo mais. Deseja-se uma relação diferente, que faça borboletas na barriga e os olhos brilhar. E a pessoa sente-se novamente disponível do ponto de vista emocional.
Acontece, porém, em muitos casos, que se assiste ao passar do tempo sem que este vazio seja devidamente preenchido. A vida arrasta-se, dia após dia, as rotinas mascaram aquilo que se sente e sem que se dê conta atinge-se este patamar doloroso de estar, há demasiado tempo, demasiado disponível emocionalmente. E quando alguém se sente assim, é como se qualquer relação fosse agora possível. O nível de exigência parece diminuir e surge como que uma sofreguidão por uma relação, seja ela qual for e como for.
Neste contexto, com a visão e o pensamento toldados pela excessiva disponibilidade, correm-se diversos riscos, começando, desde logo, pela incapacidade em distinguir uma relação saudável de uma relação abusiva. O risco, ainda, de colocar os direitos e as necessidades da outra pessoa em primeiro lugar, colocando-se a si mesmo num plano secundário. Em paralelo, o risco de sentir uma excessiva dependência em relação à outra pessoa e ao que ela representa – acima de tudo, o preenchimento do vazio sentido há demasiado tempo.
É bom estar disponível emocionalmente para acolher alguém e melhor ainda quando esse alguém chega e se inicia uma relação de afeto positivo. Atenção, contudo, à excessiva disponibilidade e aos riscos que ela pode suscitar.