Defesa, soberania e tecnologia - é este o compromisso com o futuro?

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Vivemos tempos desafiantes, marcados por uma crescente instabilidade geopolítica e por conflitos que já não se limitam a outras latitudes - a verdade é que estão cada vez mais próximos e visíveis. É neste contexto que ouvimos, com renovada atualidade, o antigo provérbio: “Se queres a paz, prepara-te para a guerra.” Mais do que uma expressão militarista, esta ideia deve ser compreendida como um apelo à responsabilidade coletiva para salvaguardarmos a forma de vida que construímos ao longo das últimas décadas, especialmente na Europa.

A paz, tal como a conhecemos - com direitos, liberdades, garantias, desenvolvimento económico e qualidade de vida - não é um dado adquirido. É o resultado de escolhas políticas, da estabilidade institucional, do respeito pelos Direitos Humanos e de uma base de segurança que permite à nossa sociedade prosperar. Viver com dignidade, criar filhos, aceder à Educação, à Saúde, à proteção social, poder tirar férias ou sonhar com o futuro são conquistas que exigem proteção. Por isso, é essencial sermos coerentes: se valorizamos a paz, temos de estar preparados para defendê-la.

Mas como se constrói essa preparação? A resposta não é, de todo, o confronto direto, mas sim a dissuasão - isto é, a capacidade de mostrar que qualquer tentativa de agressão terá um custo elevado. É esse equilíbrio que garante a estabilidade entre Estados e previne os conflitos armados.

Nos dias que correm, assegurar essa capacidade passa por investir em pessoas, em conhecimento e em tecnologia. Não se trata de escolher entre armas ou hospitais, entre Defesa ou Educação. O verdadeiro desafio é o de integrar estas dimensões numa economia mais robusta e inovadora, capaz de gerar soluções tecnológicas com aplicação civil e militar. Sabemos que a tecnologia que serve de base à internet, por exemplo, nasceu a partir de um projeto militar.

É nesse espírito que devemos estruturar a nossa soberania, garantindo capacidade de resposta nos cinco domínios fundamentais: terra, ar, mar, espaço e ciberespaço. Precisamos de plataformas e sistemas modernos, eficazes, tecnologicamente avançados, com recurso a Inteligência Artificial, machine learning, robótica e simulação de cenários de treino o mais realistas possível. No espaço, é crucial investir em sistemas de comunicação, satélites e radares capazes de monitorizar não só o lixo espacial, mas também movimentos hostis que possam comprometer a nossa segurança.

No ciberespaço, o desafio é o de garantir que os nossos sistemas informáticos - públicos e privados - estão protegidos de ataques, intrusões e espionagem. A cibersegurança já não é uma opção; é uma componente essencial da soberania de cada país.

Se é verdade que tudo isto exige uma transformação profunda, que deve ser feita com pragmatismo, com visão estratégica e sem preconceitos, precisamos de reorientar sectores como o da indústria automóvel, metalomecânica, têxtil, tecnológica e outros, para responder também a necessidades de defesa. Algumas áreas do Ensino Superior terão de reforçar também a sua ligação às ciências e tecnologias aplicadas à segurança e à inovação. Esta transformação é, acima de tudo, uma oportunidade não só para garantir a paz e a soberania, mas também para gerar desenvolvimento económico, criar emprego qualificado e posicionar-nos como um país tecnologicamente avançado.

O desafio está lançado. Cabe-nos a todos - de cidadãos a decisores, passando pelas empresas e universidades - envolvermo-nos neste esforço, com sentido de responsabilidade e compromisso com o futuro.

Diretor de Defesa e Segurança da Indra em Portugal (Indra Group)

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