Defender a União Europeia de quem a quer enfraquecer
Nas próximas eleições para o Parlamento Europeu, a defesa da União Europeia, das suas conquistas e dos seus valores, é o objetivo mais importante, perante a ameaça dos extremismos que vão alastrando como um cancro pelos Estados-membros. A União Europeia está longe de ser perfeita, mas tem instituições sólidas e é seguramente a organização mais extraordinária criada pela vontade dos povos livres e democráticos, com enorme capacidade de adaptação à evolução geopolítica e sempre com a preocupação de aprofundar o seu funcionamento para representar melhor os europeus.
De todas as organizações multilaterais regionais que existem no mundo, é sem dúvida a que mais longe foi na integração das suas políticas e na partilha de recursos para servir objetivos de desenvolvimento coletivo dos Estados-membros que a compõem. Rege-se por valores e princípios como a paz, o respeito pelo Estado de direito e pela democracia, pela solidariedade, pelo humanismo, que são o núcleo central da sua identidade, que importa preservar a todo o custo. Num mundo global e muito competitivo, a força da União Europeia reside na unidade dos seus Estados-membros, nos seus valores, na sua pujança económica e política, no exemplo que representa para as nações. Mas, por isso mesmo, só com unidade será possível manter as muitas conquistas que já foram alcançadas e enfrentar os adversários e rivais do presente e no futuro, como a Rússia, a China ou os Estados Unidos, sobretudo se Donald Trump voltar a ser presidente. Não podemos esquecer o conflito permanente com a União Europeia e a vontade explícita de a enfraquecer, como ficou demonstrado com o seu apoio ao Brexit.
Portanto, a União Europeia precisa de se proteger de todos aqueles que, direta ou indiretamente, a procuram fragilizar e enfraquecer. A Rússia é o melhor exemplo, pela forma como tem procurado destruir a União Europeia a partir de dentro, através do financiamento de partidos e movimentos de extrema-direita que fazem do antieuropeísmo e das ideologias soberanistas um dos eixos centrais da sua ação política e que tem um dos seus defensores no Rassemblement National, de Marine Le Pen, aliado do Chega. Ainda recentemente foi denunciada a existência na Europa de uma rede de influência a favor da Rússia, com pagamentos a políticos de extrema-direita e da utilização de um site chamado Voice of Europe, que se destinava a interferir nas eleições europeias e a amplificar as mensagens de políticos antieuropeus. Aproveitando-se de um conjunto sucessivo de crises de vária ordem, das
dívidas soberanas à pandemia, das crises migratórias à crise inflacionista provocada pela guerra da Rússia contra a Ucrânia, esses partidos têm encontrado o terreno fértil para crescer, ameaçando agora como nunca muitas das conquistas alcançadas desde a criação da CEE, para bem dos povos e da paz na Europa. E por isso é tão importante nas próximas eleições para o Parlamento Europeu travar o crescimento dos partidos de extrema-direita direita, para evitar a desconstrução do projeto europeu.
Portugal deve muito do seu desenvolvimento, modernização e projeção no mundo à União Europeia, e sempre tem tido também um papel ativo na consolidação do projeto europeu, com contributos relevantes de personalidades e governos socialistas para a Estratégia de Lisboa, para o Tratado de Lisboa ou a Carta dos Direitos Fundamentais.
As próximas eleições para o Parlamento Europeu serão, por isso, decisivas para a defesa das conquistas alcançadas, para um desenvolvimento económico e ambiental mais sustentável e competitivo, para uma Europa mais social e mais justa, para que a liberdade de circulação de pessoas continue a ser uma das nossas marcas de civilização, para enfrentar melhor outras potências e ameaças externas. Mas para isso é também preciso uma ampla mobilização dos portugueses e dos europeus para votarem, para impedir que a abstenção seja uma vantagem para a extrema-direita antieuropeia, deixando nas suas mãos aquilo que levou décadas a construir. Só assim se poderá evitar aquilo que aconteceu com o Reino Unido, que se deixou arrastar pelo extremismo e acabou fora da União Europeia, o que hoje a grande maioria dos britânicos já lamenta.
*Deputado do PS