Declínio populacional na China e implicações na sua economia

De acordo com o Gabinete Nacional de Estatísticas da China, em 2022 a população chinesa era de 1411,75 milhões, tendo diminuído em c. 850 000 pessoas. É a maior redução de população chinesa desde o Grande Salto em Frente, que provocou a Grande Fome de 1960-1962 que vitimou >30 milhões de vidas. Em 2022, o número de nascimentos foi de 9,56 milhões e o de mortes de 10,41 milhões, com taxas de natalidade de 6,77‰, de mortalidade de 7,37‰ e de crescimento da população natural de - 0,60‰.

Esta diminuição da população nacional chinesa marca o início do declínio populacional da China e acentua o seu envelhecimento. Fontes credíveis (Airfinity, Wigram e FT) estimam ainda que os decessos derivados das ondas de infeções de covid-19 após dezembro de 2022 sejam superiores a um milhão de vidas, contribuindo em 2023 para uma diminuição adicional da população.

A população da Índia deve ultrapassar este ano a população chinesa e, dentro de alguns anos, o mesmo deverá suceder quanto à população em idade ativa. A ONU estima que, se a taxa de fertilidade da China se mantiver num nível muito baixo (1,15/mulher, embora apenas 0,7/mulher em Pequim ou Xangai) e o país não atrair imigrantes (a China tem uma das mais baixas taxas de imigrantes no total da população residente - 0,1%), a população chinesa poderá contrair para cerca de 775 milhões em 2100 (apenas 587 milhões, segundo a Academia de Ciências Sociais de Xangai).

O envelhecimento da população aumenta os encargos com a Segurança Social a idosos, reduz a propensão para a poupança e tem outros efeitos negativos, cuja mitigação não será fácil para o governo chinês.

O declínio médio anual de 1,73% na população em idade ativa da China deve conduzir a um crescimento económico mais baixo, a menos que a produtividade cresça rapidamente. A redução da população em idade ativa levou o governo chinês a mudar o seu foco económico. O 14.º Plano Quinquenal chinês foca-se em orientar a economia para o seu mercado interno e para a produção de bens com maior valor acrescentado ao invés da produção de bens intermédios na cadeia global de abastecimento. Esta transformação demora tempo. Todavia, a migração interna dos campos para as cidades permanece forte (em 2022 havia 920 milhões de pessoas na China Urbana, com um crescimento anual de 0,5%) e permitirá mitigar os efeitos da redução gradual da população ativa decorrente do declínio populacional.

"O declínio médio anual de 1,73% na população em idade ativa da China deve conduzir a um crescimento económico mais baixo, a menos que a produtividade cresça rapidamente."

Um dos setores em que haverá implicações no curto prazo é o da construção e do imobiliário (responsável por c. 25% do PIB chinês). De acordo com uma previsão feita pelo Beike Research Institute, a procura de imóveis residenciais na China deverá continuar a cair - em média -2,5%/ano até 2035 -, à medida que o dividendo demográfico diminui. Embora alguns analistas considerem que o mercado imobiliário não vai cair acentuadamente, a procura anual de habitação nova deve cair para 1,3 mil milhões de m2 até 2035, de uma média de 1,9 mil milhões de m2 entre 2016 e 2020.

Este declínio populacional terá implicações importantes na economia chinesa, quer na taxa de crescimento, quer na direção estratégica que o governo imprimirá, quer em setores importantes. As potenciais consequências desta lenta, mas inexorável, mudança de paradigma só recentemente começaram a ser analisadas.

Consultor financeiro e business developer
www.linkedin.com/in/jorgecostaoliveira

Mais Notícias

Outros Conteúdos GMG