De quem é a bola?

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Assistimos nas últimas duas semanas a uma disputa entre os principais responsáveis dos destinos do nosso país.

Depois de um ano e meio de grande sofrimento tanto pessoal como económico, em que fomos sendo confrontados com medidas extraordinárias que condicionaram as nossas vidas e que muitas vezes foram totalmente erráticas e voluntaristas, e chegados agora a um tempo em que a pandemia já não afeta da mesma maneira a saúde pública, somos confrontados com atitudes de afirmação pessoal e de utilidade duvidosa.

Já todos sabemos que, se em vez de fecharmos os supermercados às 13 horas no fim de semana, tivéssemos protegido os portugueses de mais de 70 anos, o resultado desta pandemia não teria sido aquele que foi. Já nesse momento a opção foi manifestamente ditada por questões ideológicas, em que se considerou ser mais importante afirmar que há igualdade entre novos e velhos do que defender os mais vulneráveis numa situação de crise muito grave.

Ainda assim, o povo deste país, sempre pronto a desculpar os erros de quem tem responsabilidades - a pior das maldições para qualquer português, pois todos sabemos que não há como ser capaz de assumir responsabilidades - foi compreensivo e cumpridor e nem sequer se revoltou por ter perdido significativamente a sua já parca qualidade de vida e permitiu que continuassem a governar-nos todos os que foram sendo responsáveis por grande parte dos nossos problemas.

Desde a certeza de que este vírus dificilmente chegaria à Europa e da certeza de que a utilização de máscaras seria sempre mais prejudicial à contenção do mesmo, até à incompetência da fase inicial da vacinação em que, uma vez mais, a questão ideológica nos obrigou a aceitar que pessoas manifestamente incompetentes tomassem a seu cargo a maior responsabilidade no combate ao maior mal que afetava a comunidade portuguesa, tudo tivemos de aceitar sob a desculpa de que tudo isto é novo e que ninguém poderia saber como fazer melhor.

Tudo isto aguentámos a bem de Portugal e da união dos portugueses.

Eis senão quando, passada a maior gravidade do problema, quando já estão vacinados os grupos de risco, quando a saúde pública, importantíssima, está estabilizada e podemos e devemos voltar a tratar da saúde económica do nosso país, os nossos líderes entram numa pequena questão de poder e decidem de novo pôr tudo em causa para marcar uma posição de força relativa entre eles e afirmar quem manda em Portugal.

Defeito claro do excesso de poder que resgataram durante a pandemia, em que puderam, sem escrutínio, decidir retirar-nos as liberdades fundamentais que estão previstas na constituição e pelas quais nos batemos durante tantos anos para as conseguir.

Não é justo que seja permitido ao poder político, escudando-se numa pretensa calamidade que neste momento não existe, voltar a tomar atitudes ditatoriais sobre a nossa forma de viver. E isto é tanto mais assim quanto as medidas agora adotadas não têm qualquer vantagem no combate ao vírus que lhes serve de argumento.

Ao fechar durante o fim de semana uma zona como a Área Metropolitana de Lisboa, não se está a conter a disseminação do vírus. O teletrabalho torna possível antecipar o fim de semana com a saída de casa na sexta-feira de manhã, trabalhando esse dia no local de destino e pondo em causa o controlo sobre o contágio.

Por outro lado, o fecho dos restaurantes às 22h30 não tem efeito sobre a disseminação do vírus, mas tem um enorme efeito sobre os prejuízos de um negócio que sofreu absurdamente durante o confinamento.

Senhores políticos, por favor deixem de brincar com a vida dos portugueses.

Ajudem verdadeiramente o país a sair deste drama e não queiram ganhar à conta do nosso sofrimento.

O dono da bola somos nós. Respeitem-nos!

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