Das variáveis explicativas do comércio bilateral
Segundo Gérard Lafay, existem três modalidades distintas de internacionalização, a saber:
- o comércio internacional, em que os agentes económicos apostam na exploração de complementaridades e numa competição assente na especialização inter-sectorial ou intra-sectorial;
- a que resulta da afectação do investimento directo produtivo no exterior (sob as mais diversas modalidades, desde a criação de filiais à montagem de “joint ventures”);
- a “empresa-rede”, com o estabelecimento de relações contratuais com parceiros estratégicos, a nível local, permitindo uma maior integração no contexto do país objecto de uma “estratégia de intervenção” (forma mais recente de internacionalização, visando maximizar a eficiência de “cadeias de valor integradas”).
Trata-se de uma construção teórica que não difere muito da que distingue a “soft internationalization” da “Intermediate internationalization” e da “hard internationalization”.
Considerando-se, todavia, a modalidade do comércio internacional e, dentro desta, do comércio bilateral, Lafay procurou explicar a intensidade dos fluxos comerciais entre dois países a partir de um conjunto de variáveis (ditas explicativas), a saber, a proximidade geográfica, a adjacência, os diferentes graus de especialização, o comércio intra-sectorial e o comércio inter-sectorial.
Procurando o autor determinar os coeficientes de correlação entre a variável dependente (a intensidade do comércio bilateral) e as diferentes variáveis explicativas, chegou à conclusão de que o coeficiente de correlação mais elevado é o que liga a variável dependente à adjacência (isto é, a existência de fronteiras comuns), seguindo-se-lhe a proximidade geográfica e as diferenças de grau de especialização.
Já o grau de correlação entre a variável dependente e a variável diferenças de graus de desenvolvimento e a sua incidência no comércio intra-sectorial apresenta-se negativo, o que significa que quanto maiores forem as desigualdades entre duas economias, menor será o comércio intra-sectorial.
Por outro lado, o comércio inter-sectorial entre economias com graus de desenvolvimento muito diferenciados tende a apresentar valores positivos, ainda que não significativos, não compensando, suficientemente, todavia, o baixo comércio intra-sectorial.
Tal significa que quando se liberaliza o comércio entre duas economias com patamares de desenvolvimento muito diferenciados, em princípio o comércio total entre ambas (intra e inter-sectorial) não tende a apresentar-se elevado.
O modelo de Lafay explica, em parte, a tendência para a emergência de experiências integracionista entre economias geograficamente próximas- sobretudo, quando adjacentes -, com graus de especialização diferenciados, mas que não apresentem grandes diferenças de graus de desenvolvimento.
Correndo o risco de alguma simplificação analítica, quando se pensa em alargar uma área de integração a outras economias, importa não esquecer o modelo de Lafay se, entretanto, se estiver confrontado com realidades que experimentam grandes diferenças de graus de desenvolvimento.
É evidente que há casos excepcionais como o da Ucrânia, em relação ao qual a UE tem uma responsabilidade moral.
Mas, há outros casos diferentes, para além de não convir integrar no projecto europeu países que estão “divididos ao meio”, em termos de opinião pública, havendo metade do eleitorado pró-ocidental e uma outra pró-Putin.
Já conhecemos problemas com a Hungria e, em parte, com a Eslováquia e, porventura um dia, com a Roménia e a Bulgária.
Convinha que os responsáveis europeus (isto é, os responsáveis europeus da Europa genuinamente democrática) não tivessem tropismo para o suicídio.
Nem mais, nem menos…
Economista e professor universitário
Escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico