Curso Instantâneo de Criatividade 1

“A criatividade é a competência número um da economia do século XXI”, Ken Robinson, pedagogo, (1950-2020)
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A criatividade é a melhor solução para o desenvolvimento das sociedades e das economias. Sobretudo quando estamos no início da maior revolução civilizacional de todos os tempos: a Inteligência Artificial. E para países como Portugal, em que o conhecimento científico e tecnológico ainda não é suficiente para fazer a diferença, a criatividade pode ser a “inovação dos pobres”. Para a sociedade portuguesa, culturalmente expectante, com uma enorme apetência para o consumo de antidepressivos, a criatividade pode ajudar as pessoas a procurarem melhores caminhos. Ou melhor ainda: a encontrarem o seu caminho.

Nos próximos artigos vou oferecer um curso de introdução à criatividade para todas as pessoas. O processo criativo é universal, mas vou orientar o meu discurso e os meus exemplos mais para a economia e menos para a arte. Neste primeiro artigo, começamos por saber ao que vamos e com isso desmistificar algumas ideias bastante prejudiciais à aprendizagem de mais criatividade.

O que é a criatividade?

A maior parte das pessoas confunde criatividade com talento ou arte, associando à sorte e “à boa vida”. É importante haver prazer no trabalho criativo, mas a criatividade é sobretudo exploração e experimentação. A criatividade é a busca incessante do conhecimento. É trabalho. Normalmente é muito trabalho.

Podemos definir criatividade como um processo que conduz a novas soluções que funcionam. O que nos leva a três ideias de base: a primeira é que é um processo, logo uma técnica, pelo que pode ser aprendida por todas as pessoas; em segundo lugar o processo tem de produzir algo de novo (acrescenta algo); e em terceiro lugar esse “algo de novo” tem de funcionar, o que quer dizer que deve acrescentar valor, que é reconhecido pelos clientes, pelos utilizadores ou pelo próprio autor. Os “idiotas” têm ideias, os criativos produzem soluções.

Para que serve a criatividade?

A criatividade serve para resolver problemas de forma diferente. A maior parte do tempo resolvemos problemas como sempre fizemos no passado. Pode ser abrir uma porta, cozinhar bacalhau ou pintar um quadro. Estas soluções são boas, porque estão muito testadas. Sabemos como se faz e sabemos que funciona bem. É mais fácil abrir uma porta com a chave certa do que com uma marreta.

Mas por vezes os métodos normais deixam de ser úteis: perdemos a chave; não há bacalhau no frigorífico ou chego à conclusão de que as minhas telas são todas iguais. Nestas situações precisamos de novas soluções. Podemos ir comprá-las, o que qualquer pessoa pode fazer, ou podemos construí-las, e só nós temos a solução.

Os portugueses elogiam muito a sua capacidade de “desenrascar”, o que é sem dúvida uma variante criativa. Mas o “desenrasca” surge por falta de planeamento. Normalmente resolve mal, porque não é a melhor solução, é a solução possível.

Em resumo: a criatividade serve para criar valor. Para fazer inovação, para fazer arte, ou para procurar uma ideia de felicidade.

Quem pode ser criativo?

Todas as pessoas, em todos os cargos, em todos os sectores, podem e devem ser criativas. O que não quer dizer que apliquem a criatividade em tudo o que fazem. Por exemplo, os setores de alta segurança, como as centrais nucleares, exigem o mínimo de risco, pelo que é mais difícil aplicar a criatividade. A maior parte das funções está limitada por uma compreensível forte regulamentação. No entanto, o mesmo setor da energia é onde está a ser investida (a nível conceptual) mais criatividade em todo o mundo.

Nem todos podem alimentar a ideia de encontrar a energia do futuro, mas todos podem usar a criatividade para pequenas e grandes questões do quotidiano: alimentar uma relação amorosa saudável; encontrar diversão no caminho de autocarro para casa; criar o próprio emprego.

Quais as vantagens da criatividade para as pessoas?

No essencial, a criatividade produz mais soluções. Com mais escolhas, podemos fazer melhores escolhas. E pelo caminho vamos ter opções que mais ninguém tem. E isso faz de nós pessoas especiais e singulares.

Ao mesmo tempo, o processo de gerar ideias vai dar muito de nós. Será sempre uma representação da nossa visão do mundo. O que nos confere uma enorme capacidade de realização.

Quais as vantagens para a escola?

A criatividade é o modelo de ensino do futuro: foca-se na autonomia e no aprender a aprender. Desenvolve as competências mais importantes: observação, análise, abertura de espírito, escuta ativa, curiosidade, capacidade de síntese, imaginação, colaboração, comunicação, experimentação, resiliência, persistência, entre outras. Trabalha a gestão de projeto e baseia-se no ”aprender fazendo”, para permitir potenciar a autoestima e a motivação intrínseca.

Quais as vantagens da criatividade para a sociedade?

A criatividade torna a sociedade mais dinâmica, com mais capacidade de autorregeneração, sem estar agarrada a modelos tradicionais não satisfatórios. Desenvolve maior capacidade de observação e análise. Cria mais mecanismos corretivos. E constrói mais identidade, porque usamos as nossas soluções, em vez de importarmos as soluções de outras culturas.

Quais as vantagens para a economia?

Empresas inovadoras precisam de colaboradores criativos. A boa criatividade reduz custos e/ou aumenta receitas; permite desenvolver melhores produtos e/ou serviços. Para além disso, pensar diferente é barato: gasta tempo, papel e lápis (os protótipos são uma segunda fase). Investir em criatividade a sério é reduzir os riscos da inovação.

A criatividade gera inovação que confere vantagem competitiva. Aumenta a produtividade e abre caminho para novos mercados. Valoriza os recursos humanos e gera mais riqueza para todos.

Quais as desvantagens da criatividade?

Fazer algo de novo, acarreta novos riscos. Há mais incerteza e insegurança.

Mas nada fazer também comporta riscos. Podemos ficar desatualizados, sofrer a corrosão do cansaço. A grande missão do processo criativo é reduzir o risco da inovação ao máximo.

Este primeiro artigo é teórico, mas a criatividade é prática. No próximo artigo, começamos a fazer exercícios práticos.

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