Crescer mas ficar para trás

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Portugal dispõe de uma bazuca, o maior fluxo de fundos públicos europeus jamais recebidos pelo nosso país. O Governo sem discussão pública relevante decidiu como os vai gastar.

Com esta poderosa arma, com estas centenas de milhares de milhões de Euros, esperar-se-ia um crescimento rápido da nossa economia. No entanto o PS propõe no seu programa em 12 pontos um crescimento de apenas 0,5% acima da média europeia. E tratando-se de uma meta, de que se espera seja ambiciosa, o natural é não ser plenamente atingida.

Porque geram uma tão baixa eficiência os investimentos escolhidos pelo Governo para despender estes gigantescos fundos públicos europeus? Normalmente quem está para trás, como Portugal, porque tem uma base de partida mais pequena, tem mais facilidade em crescer a taxas mais velozes. Normalmente para quem está para trás, como Portugal, o investimento tem um efeito multiplicador mais forte. Mas aparentemente estes pressupostos económicos falham em Portugal. Fica a questão, porque é que este investimento colossal não acelera significativamente o crescimento económico?

Como os países que ainda estão atrás de Portugal no ranking europeu têm vindo a crescer muito mais do que 0,5% acima da média europeia é muito natural que grande parte deles nos ultrapasse nos próximos anos. Eles já estão a crescer mais depressa que Portugal e também estão a crescer mais do que as metas do Governo já contando com a bazuca. Acresce que também eles terão as suas bazucas.

Como em qualquer corrida não basta avançar é preciso ser mais veloz que os outros. Não do que a média dos que já nos levam várias voltas de avanço e não vamos alcançar mas dos que os que nos estão quase a apanhar. Para não ficarmos em último.

Perde-se, assim, sem glória nem luta, a grande oportunidade deste início de século, uma perda que se vai refletir por muitas décadas no futuro.

Uns míseros 0,5% de crescimento acima da média europeia que nos deixarão mais atrasados e pobres. Uns míseros 0,5% que mostram o esgotamento do modelo económico atual do nosso país.

Eis no que dá fazer planos sem envolver a sociedade, sem estudos prospetivos, sem ambição, e avançar para gastos com escasso impacto no crescimento.

Lamentavelmente em Portugal a exigência é pequena, qualquer mau desempenho passa por genial, qualquer desculpa permite esconder a incompetência, qualquer erro pode ser ultrapassado com um erro ainda maior. Isto é assim porque quem paga os erros não são as elites mas os mais vulneráveis que ficam ainda mais pobres, os jovens mais precários, as minorias étnicas mais discriminadas.

Esta tendência infantil de esconder a cabeça na areia perante os problemas e de negar a sua existência, de transformar em ideológica qualquer crítica séria, de querer ver o que não existe, de esconder o falhanço para não ser corrigido, empobrece a população, leva à emigração e está a minguar a capacidade do país se manter como entidade soberana entre as nações.

Uma ausência de orgulho patriótico que se contenta em ver o país afundar-se nos rankings internacionais, que se satisfaz com os últimos lugares, que não sonha com o Futuro, está a consumir Portugal.

Temos dois grandes exemplos com os quais podemos aprender muito. A China que de país rural e semifeudal se transformou na maior economia do mundo no decurso de uma vida. O Reino Unido que sentindo estar a ser limitado nas suas potencialidades, mudou de estratégia procurando uma nova via para a sua prosperidade.

É nesta vontade de seguir o seu caminho, nesta coragem de romper com o que nos tolhe o passo, que se encontra a solução para a presente crise do nosso país.

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