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Mudam-se os tempos, mudam-se os comparadores. Ainda não há muitos anos, o farol para o desenvolvimento de Portugal eram países como França e Alemanha. Ricos e com elevados níveis de bem-estar social, os motores do crescimento europeu representavam o horizonte com que o país sonhava.

Comparação semelhante era feita com Espanha. Lembro-me bem como esse exemplo foi tantas vezes referido em 2017, quando, apesar do nosso forte crescimento, os dados provisórios indicavam que Espanha cresceria mais. Não me esqueço também quando, pouco mais tarde, o INE reviu as contas e registou o crescimento de Portugal em 3,5% (que comparava com 3% dos nossos vizinhos) e a partir dessa altura mais ninguém nos comparou com Espanha.

Na verdade, é muito curioso que também França e Alemanha tenham deixado de ser usadas como referência. Suspeito que tenha alguma relação com o facto de nos últimos sete anos, ou seja, desde que o PS chegou ao governo, Portugal registar um crescimento acumulado de 14,9%, quase o dobro dos 7,6% da Alemanha (sublinho, quase o dobro), 8,4% de França e 8,3% de Espanha. Ou com o facto de nestes sete anos termos convergido com a média europeia em todos os anos, exceto o do pico da pandemia.

Mas, se a comparação com aqueles países ou a média europeia não serve para alimentar a narrativa de que o país não cresce, o que fazem os spin doctors da direita portuguesa? Escolhem outro exemplo! Nos últimos dias descobriram então a Roménia.

É certo que a Roménia está a crescer bastante. Entre as várias razões que o explicam, destaco o facto de ter entrado na UE há apenas 15 anos. Tal como aconteceu com Portugal e todos os outros, há sempre um "boom" económico nos primeiros anos de abertura e acesso ao mercado único. E certamente que a Roménia tem também muito mérito no seu progresso.

Ainda assim, dadas as diferenças de bem-estar entre os dois países (só para dar um exemplo, o salário mínimo anualizado em Portugal é 60% mais alto), estou certo de que pouquíssimos portugueses prefeririam a situação da Roménia. O mesmo não se pode dizer de França, Alemanha e Espanha.

Em qualquer análise séria sobre o crescimento de Portugal nos últimos anos tem de constatar que foi o crescimento económico que o país alcançou nos últimos sete anos a quebrar com as "duas décadas de estagnação" de que tanto se fala. Houve estagnação, sim, mas virámos essa página no final de 2015. Os 14,9% de crescimento (apesar da pandemia) durante os governos de António Costa comparam com 3,3% acumulados durante os 15 anos anteriores.

15 anos relativamente aos quais a direita portuguesa tenta fazer esquecer que esteve metade do tempo no governo. Mas os portugueses não se esquecem; e o retorno das figuras do passismo à ribalta do PSD ajudam a refrescar a memória.

A análise do percurso recente da economia portuguesa é útil e instrutiva. Discutir a sustentabilidade da política de recuperação de rendimentos, através da aposta concomitante na educação e inovação produtiva, é útil, para retirar lições para o futuro. Mas é bom que a obstinação pela crítica não atropele o rigor da análise.

Dois jogos, duas vitórias, seis pontos. A seleção nacional já garantiu o apuramento para os oitavos-de-final, mas o nosso caminho, espero e acredito, será mais longo. Força Portugal!


Eurodeputado

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