Contra a inflação
A semana ficou marcada pela apresentação do plano do governo de resposta ao aumento de preços. A expectativa era grande. A inflação está a corroer o poder de compra das famílias, colocando em risco o forte crescimento económico (o maior da UE) e o baixo nível de desemprego.
O governo já tinha lançado algumas medidas para limitar a subida dos preços da energia, mas a evolução da situação requeria uma nova resposta.
Tentando antecipar-se, o PSD apresentou a sua proposta, assente essencialmente em reduções de impostos e vales alimentares para pensionistas e trabalhadores com menores rendimentos. Não gerou muito entusiasmo, nem sequer junto daqueles mais próximos do partido, mas assinale-se o contributo positivo com a apresentação de propostas concretas.
O plano do governo, intitulado "Famílias Primeiro", superou largamente as propostas do PSD. Envolve transferências imediatas para as pessoas de rendimentos mais baixos, da classe média e pensionistas, limites ao aumento de rendas (com compensações fiscais para os senhorios), congelamento do preço dos passes sociais, redução do IVA da eletricidade e possibilidade de transição dos consumidores de gás para o mercado regulado.
Juntamente com as medidas anteriormente apresentadas, o plano supera os quatro mil milhões de euros (cerca de 2% do PIB), não ficando muito distante dos planos de Espanha e Alemanha (2,5% do PIB), até porque se espera ainda que o governo apresente agora novas medidas dirigidas às empresas.
É um plano ambicioso, que permitirá aliviar o impacto da inflação sobre as famílias portuguesas, mas também prudente, na medida em que evita alimentar uma espiral inflacionista.
A atenção à dívida e ao défice tornam-se, aliás, mais relevantes no contexto de elevada incerteza do quadro macroeconómico e agora da política monetária.
Para responder à inflação e à perda de valor do euro face ao dólar, na reunião de hoje do Banco Central Europeu deverá ser decidido um novo aumento das taxas de juro. Os ingredientes vão-se somando: alta inflação, crise no horizonte, agravamento das taxas de juro... esperemos que o Banco Central Europeu consiga resistir às pressões da direita europeia que pressiona por mais restrições na política monetária. As consequências sobre o crescimento económico e a dívida pública dos países do Euro seriam dramáticas.
O bom desempenho económico e o continuado trajeto de redução da dívida pública têm permitido a Portugal ficar fora da zona de risco, contando mesmo com taxas de juro mais baixas que Itália ou Espanha. É por isso que o plano português, sendo ambicioso, é também "prudente", como o classificou o ministro das Finanças, Fernando Medina. Esbate, de imediato, o esforço dos mais desfavorecidos e da classe média face ao aumento dos preços e assegura a sustentabilidade da dívida pública a médio e longo prazo, ao mesmo tempo que a economia cresce e mantém o emprego.
Não é obstinação com a dívida, é com a vida dos portugueses.
Será a sucessora de Boris Johnson à frente do Partido Conservador e, consequentemente, do governo britânico nos próximos dois anos e meio. Infelizmente, a retórica de Truss sugere-nos continuidade nas tensões entre a União Europeia e o Reino Unido. Sinal disso foi a situação recente onde hesitou identificar o Presidente Macron como amigo do seu país. Preocupante.
Eurodeputado