Comportamentos Desacreditados

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A confiança é um aspeto central nas relações humanas.

Sejam relações amorosas, profissionais, de amizade, familiares, ou mesmo, relações que se estabelecem entre cidadãos e cargos políticos. Atualmente, assiste-se a um conjunto de circunstâncias, das quais uma das principais consequências é o descrédito de instituições e de referências nacionais para os cidadãos. A quebra de confiança pode acarretar descrença, insegurança, frustração, zanga e ceticismo em relação ao futuro. Com razão. A confiança pode implicar, por uma das partes, a aceitação da sua vulnerabilidade. Amar é estar a descoberto. Em relações sociais, ou entre cidadãos e instituições, espera-se que as ações e comportamentos estejam de acordo com as expectativas criadas. E mesmo quando o caminho é feito de obstáculos, sempre que existe confiança, há um chão seguro. Vários estudos sugerem que, em contexto de trabalho e institucional, os colaboradores de uma empresa aceitam adversidades quando confiam nos líderes. Têm maior capacidade de resiliência quando a liderança é empática, mas também, se for sentida como confiável, fidedigna e honesta.

A quebra de confiança pode estar presente em relações entre pacientes e médicos, entre pessoas e psicólogos. As intervenções psicológicas e a psicoterapia têm um elevado índice de eficácia. A investigação sugere que a pessoa em tratamento psicológico tem, em média, melhorias mais significativas que 80% da amostra não tratada. A psicoterapia é, em muitos casos, igualmente eficaz a intervenções medicamentosas, sendo os ganhos terapêuticos da primeira, geralmente mais duradouros. Cerca de 50% das pessoas melhoram com 12 sessões de psicoterapia. Estes, e outros dados extremamente positivos, são pouco conhecidos do público em geral. Mas, significa isto que o cenário é isento de problemas? Obviamente que não. Em Portugal, apesar das melhorias, existe ainda um longo caminho a percorrer. É extremamente difícil aceder a serviços de apoio psicológico convenientes. Sobretudo, a população mais desfavorecida do ponto de vista socioeconómico, não tem acesso aos serviços de apoio psicológicos. Caso paradigmático, são os centros de saúde, com um rácio de 2,5 psicólogos por 100 mil habitantes. Não é possível ter serviços de qualidade com este tipo de enquadramento. O que irá de facto ser implementado com as verbas do PRR na área da saúde mental? Outro problema grave é um extremo consumo de psicofármacos. Portugal está no topo do ranking europeu de consumo de medicamentos para a saúde mental. A falta de literacia em saúde psicológica leva a que uma grande maioria da população solicite ajuda de "terapias", de supostos profissionais, e pessoas que não apresentam as devidas qualificações para lidar com as problemáticas da saúde psicológica. Esta questão é atualmente um problema vasto, atendendo ao número de pseudoterapias que proliferam, e profundamente grave, tendo em consideração o risco para a saúde.

A área do apoio psicológico e psicoterapêutico tem sido amplamente objeto de investigação científica que, também, identificou comportamentos desacreditados que nenhum psicólogo ou psicoterapeuta, deve pôr em prática na sua atividade clínica. Entre outros, destacam-se: os juízos de valor; as confrontações, as críticas, as observações sobre aspetos pessoais; a não-aceitação da perspetiva da pessoa; uma postura opinativa; apresentar explicações confusas e elaboradas que não compreensíveis para a pessoa; o não cumprimento das sessões marcadas; a crítica pelo processo terapêutico.

Por outro lado, é sabido que a base da confiança de um processo terapêutico estabelece-se numa relação de confiança. Para esta ser criada, é essencial haver uma colaboração real entre as duas pessoas, uma aceitação incondicional da experiência da pessoa, respeito, uma posição empática, uma verdadeira escuta ativa, compreensão e um enquadramento relacional que traduza segurança. Estes são elementos essenciais e basilares da construção de cada processo terapêutico, para os quais os psicólogos e os psicoterapeutas, estão profissionalmente treinados.

Diretor Clínica ISPA

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