Complicadas, as futuras Presidenciais

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Todas as Eleições Presidenciais portuguesas desde 1976 foram resolvidas logo à primeira volta, com exceção das de 1986, em que perante um candidato fortíssimo da direita, Diogo Freitas do Amaral, a esquerda se dividiu entre Maria de Lurdes Pintasilgo, Francisco Salgado Zenha e Mário Soares. Só graças à mobilização dos comunistas, com o seu secretário-geral Álvaro Cunhal a admitir que apoiar o líder histórico dos socialistas era engolir um sapo, Soares ultrapassou Freitas na segunda volta, sucedendo a António Ramalho Eanes, o primeiro dos nossos presidentes eleitos por sufrágio universal e direto.

A exceção de 1986 muito provavelmente vai deixar de o ser quando em janeiro de 2026 o país for chamado de novo a eleger um Presidente. Não só o espetro político está mais fragmentado (curiosamente, a força hoje do Chega no Parlamento é semelhante à do PRD após as Legislativas de 1985), como, sobretudo, não se antecipa a possibilidade de, seja à esquerda, seja à direita, surgirem candidatos capazes de unir plenamente o seu campo político logo à primeira volta.

Há 40 anos isso aconteceu à direita, com o PSD do primeiro-ministro Aníbal Cavaco Silva a apoiar uma candidatura oriunda do CDS, mas falhou em toda a linha à esquerda, com o PCP e o PRD a apoiarem o socialista Zenha contra o candidato oficial do PS, Soares. Desta vez, adivinham-se múltiplas candidaturas, algumas de nomes que vão aparecendo com regularidade nas notícias, outros de certa forma surpreendentes.

André Pestana, que assumiu este fim de semana a candidatura a Belém, é um caso híbrido. Como coordenador do S.T.O.P é figura bastante presente nos jornais e nos noticiários televisivos, mas não deixa de surpreender a vontade de querer ser o sucessor de Marcelo Rebelo de Sousa.

O percurso político do sindicalista, que foi militante da juventude comunista, fundador do Movimento Alternativa Socialista e depois saiu deste e também do Bloco Esquerda, não deixa grandes dúvidas de que vem complicar um pouco as contas ao PCP, ao Bloco, ao Livre e até mesmo ao PS.

No caso dos socialistas, as próximas Presidenciais assumem uma importância grande depois de divisões internas ou escolhas falhadas de candidatos terem permitido que as últimas quatro eleições para Belém fossem para figuras oriundas do PSD, Cavaco Silva e Marcelo. Isto depois de o partido ter, antes, conseguido eleger e reeleger Soares e Jorge Sampaio.

Qualquer sinal de dispersão acrescida de votos à esquerda, com risco de não-passagem à segunda volta, afasta potenciais candidatos das eleições de 2026. Aqueles nomes sonantes que ambicionam a Presidência, mas não tanto que queiram correr o risco de uma derrota, ou mesmo de uma eliminação precoce.

À direita, o risco de múltiplos candidatos existe também, e não é necessário aparecer já o equivalente a Pestana. Entre figuras oriundas dos partidos e os chamados independentes, a direita está a par com a esquerda na capacidade de dificultar a tarefa a si própria.

O resultado de tudo isto, e vamos ainda ter de esperar um pouco mais de um ano para o saber, é que, além do cenário de não haver vencedor à primeira volta, há um cenário de numa segunda volta faltar o candidato de um dos dois grandes partidos, e ainda se pode especular sobre um cenário em que nem o PS, nem o PSD, estariam representados no duelo final por Belém. Complicado?

Diretor-adjunto do Diário de Notícias

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