Como deve Portugal posicionar-se na nova era Trump?
Como deve posicionar-se Portugal perante a nova Administração americana? Não é fácil responder a esta questão. Por um lado, as políticas protecionistas que Donald Trump já começou a implementar são um desafio acrescido para as empresas europeias, incluindo as portuguesas. Por outro, a nova conjuntura traz oportunidades a que devemos estar atentos, enquanto país com uma economia aberta ao mundo e situado numa localização estratégica. Em poucas palavras, há coisas que não conseguimos controlar, mas outras dependem apenas de nós .
Em primeiro lugar, Portugal pode beneficiar se continuar a posicionar-se como um país seguro, politicamente estável e atrativo para o investimento estrangeiro, incluindo o americano, que deverá aumentar nos próximos anos devido às políticas económicas de Trump. Os três principais partidos políticos - PSD, PS e Chega - deveriam esforçar-se por criar um consenso alargado em temas como a fiscalidade das empresas e com medidas que permitam tornar o país mais atrativo para o investimento estrangeiro. Precisamos também de medidas eficazes para a promoção de um mercado de capitais que cumpra o seu papel de captar as poupanças dos portugueses, para que sejam investidas no tecido produtivo, reduzindo a dependência das empresas face à banca. São temas onde seria possível estabelecer um consenso entre os maiores partidos, apesar de termos hoje um PS mais à esquerda do que era habitual.
Em segundo lugar, Portugal irá beneficiar se souber posicionar-se como um país que consegue manter os seus fortes laços com os EUA, mas ao mesmo tempo preservar a sua relação histórica com a China, tal como defendeu o embaixador António Martins da Cruz na sua participação na conferência de aniversário do Diário de Notícias, no passado dia 17 de janeiro. Historicamente falando, a diplomacia portuguesa sempre soube manter esses equilíbrios.
Em terceiro lugar, Portugal sairá a ganhar se contribuir ativamente para um despertar da Europa a nível geopolítico. Já todos percebemos que a União Europeia terá de mudar a sua perspetiva em relação ao investimento na Defesa e devemos lutar por soluções de financiamento à escala comunitária, com o envolvimento do BCE ou de mecanismos comuns que já demonstraram a sua eficácia nas crises dos últimos anos.
A Europa constrói-se de crise em crise e esta que vivemos é talvez a mais grave de sempre, porque é existencial. Numa era em que, como disse Enrico Letta, a Europa arrisca ter de escolher entre tornar-se uma colónia americana ou uma dependência da China, precisamos de mudar rapidamente de vida. Temos a população, a economia e os recursos necessários para assegurarmos a nossa autonomia estratégica. O que falta? Para começar, liderança e vontade política.
Diretor do Diário de Notícias