Coligações negativas são como os furacões. Surgem de repente
Na minha crónica publicada há duas semanas a propósito da estabilidade política escrevi sobre o governo da Aliança Democrática que “andar a pendular alianças/entendimentos de um lado para o outro levará a novas eleições”.
É um facto que estamos ainda longe desse cenário e que o Governo terá, praticamente, garantida a aprovação do orçamento do próximo ano.
Todavia, esta semana, começaram já a verificar-se sinais significativos da opção que o governo faz em não escolher uma única força política para estabelecer uma aliança que dê estabilidade no futuro. Ou reconstruir o bloco central ou atirar para o lixo o “não é não” e aliar-se ao Chega. Percebe-se a lógica do primeiro-ministro jogando, politicamente, com a ideia de que será difícil, por agora, a formação de uma coligação negativa que derrube o governo. Luís Montenegro vai balanceando ora com a aprovação e o apoio de medidas de simpatia socialista, ora com a apresentação e eventual apoio de outras do agrado do Chega. Mas esse jogo tem riscos sem consequências para já, mas poderá ser uma má opção no futuro a médio prazo.
Os governos em Portugal teimam em não olhar para o exemplo alemão onde o sistema de alianças políticas é institucionalizado e dá à Alemanha uma estabilidade política que não vemos em Portugal.
A recente Comissão Politica do PS foi já um exemplo do desconcerto que poderá vir a verificar-se, futuramente, na estabilidade do país.
Recentemente José Luís Carneiro escreveu uma carta ao primeiro-ministro propondo uma acordo de princípio sobre questões de Defesa. José Luís Carneiro agiu bem. É do domínio do bom senso comum, com o estado em que está o Mundo, que exista em Portugal uma base de entendimento tão grande quanto possível entre todas as forças políticas no sentido que o país tome opções na área da Defesa com o maior apoio possível, opções que sejam suportadas pelo maior número possível de partidos políticos.
Embora não declaradamente, esta atitude de José Luís Carneiro parece ter suscitado algumas reservas relativas à postura que o PS deve ter ao apoiar o governo em questões de soberania. Isso foi visível sobretudo nos temas da imigração e na lei da nacionalidade, matérias onde deveria ser procurado um consenso o mais alargado possível, mas nas quais já se verificam sérias ameaças de rutura consensual, sobretudo de uma parte do Partido Socialista. Pedro Silva Pereira e Vieira da Silva na reunião da Comissão Política viram de imediato uma excessiva aproximação do PS ao governo e às teses do Chega e onde deveria haver um entendimento existem já sinais de um excesso de ideologia em detrimento de uma abordagem que nos traga bons resultados práticos. A declaração política de Vieira da Silva ao afirmar “ onde a AD negociar com o Chega o PS não deve negociar com a Aliança Democrática” fecha a porta à possibilidade de se conseguir uma legislação sobre imigração e nacionalidade de consenso o mais alargado possível.
O PS não percebeu ainda, ou não quer perceber, que é hoje a terceira força política em Portugal. Perdeu as eleições porque foi incapaz de resolver os problemas do país quando exerceu o poder. Os socialistas teimam em colocar a ideologia à frente dos interesses do país. O PS quer ser moderado e está, permanentemente, a exorcizar o Chega. Alguns socialistas não entendem que hoje, ser moderado, é ajudar a resolver os problemas do país que são muitos e complicados. E para isso o diálogo tem de ser feito com todos, incluindo o Chega, que, goste-se ou não, é hoje o maior partido da oposição e representa uma parte significativa dos portugueses. È a vida, como tantas vezes diz António Guterres.....
Assim rezemos aos Deuses para que Montenegro consiga com mestria gerir uma situação política que, de dia para dia, parece agudizar-se com uma falta de consensos e entendimento sobre questões tão importantes como Defesa, a imigração e a nacionalidade. Infelizmente para todos nós o tema Defesa é hoje uma questão de segurança europeia da qual não podemos fugir. E sobre a imigração não nos parece que haja da parte do governo qualquer intuito de impedir a entrada de imigrantes vitais para suportar a nossa economia. Que venham mas, organizadamente, com condições sociais dignas e disponíveis para adquirirem as ferramentas que um dia mais tarde lhe possibilitem ter a nacionalidade portuguesa se for caso disso. Seja a um prazo de cinco, sete ou dez anos. È assim tão difícil obter consensos sobre matérias tão importantes como estas? Ou só se conseguem consensos para coligações negativas e derrubes de governo?
Jornalista