Cinema português: encontros, pontes, desafios
Na primavera do ano passado, teve lugar no Batalha Centro de Cinema, no Porto, a iniciativa Novos Encontros do Cinema Português. Este foi um projeto comissariado por três entidades: o próprio Batalha, o Cineclube do Porto e a Fundação Calouste Gulbenkian. Durante dois dias, foi possível reunir num mesmo evento alguns dos importantes intervenientes de quatro áreas matrizes do cinema português: Educação, Produção, Distribuição/Exibição e Crítica.
O projeto convidou quatro investigadores para levar a cabo, durante nove meses, uma auscultação a essas áreas, conduzindo uma série de entrevistas, questionários e recolha de informação relevante. No Encontro, cada investigador pôde apresentar os dados referentes ao seu setor, servindo isso como mote para uma série de debates com vários conjuntos de convidados e, naturalmente, com o público.
Este mês, ficaram disponíveis numa publicação as conclusões destes Encontros. Das diferentes conclusões destaco, muito sumariamente, algumas ideias-chave.
No campo da Educação, a necessidade de uma maior relação comunicacional e cooperativa entre os diferentes projetos no terreno, com reforço dos recursos e competências do Plano Nacional de Cinema, para a constituição de uma verdadeira rede colaborativa entre as suas ações e as diferentes iniciativas da sociedade civil.
Face à Produção, um foco na reformulação de um conjunto de procedimentos no ICA. Nomeadamente, ao nível da definição de políticas do cinema português, além das funções de financiamento, ou ainda a agilização de processos de apoio e um maior realismo dos recursos, face aos atuais custos de produção. Isto além dos problemas de sustentabilidade, diversidade geográfica nos apoios ou maior igualdade no acesso aos meios.
Além do reconhecimento do papel da crítica de cinema na formação do público, os Encontros destacaram a questão da precariedade dos seus profissionais. A necessidade de apoio à existência de mais plataformas, onde se pudesse desenvolver crítica com maior regularidade, é tida como o ponto de partida para uma melhor crítica, menos vulnerável às pressões da publicidade, e a garantia de um acesso mais igualitário e representativo de vozes.
Os Encontros revelaram ainda a dificuldade da distribuição e exibição do cinema português, nomeadamente pelo número diminuto de salas (e em particular fora de Lisboa e do Porto), pelos limites de financiamento a estas atividades ou ausência de quotas para a exibição do cinema nacional. Isto além do conhecido desequilíbrio, face ao controlo de parte substancial do mercado por parte de uma só distribuidora e a concorrência crescente com o streaming.
Tendo como natural inspiração a Semana de Estudos sobre o Novo Cinema Português de 1967, momento importante para a definição das políticas de financiamento da produção portuguesa, estes Novos Encontros pretenderam reativar a energia proporcionada pelas ideias de encontro, troca e mediação. Estas conclusões que agora se tornam públicas são assim um importante documento de trabalho para tornar a lógica do encontro recorrente e aí vislumbrar novas soluções e contruir caminhos de futuro.