China. O estremecer do dragão

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Em dezembro, no mercado de Whuan, onde se comercializavam animais vivos, surgiu na China um vírus respiratório que se transformou numa pandemia mundial.

Durante meses as autoridades chinesas ocultaram ao mundo a existência desse vírus. Só a 20 de janeiro de 2020 a OMS deu a conhecer a covid-19, tendo declarado o vírus como uma Emergência de Saúde Pública Internacional.

Desde o surgimento do vírus que as autoridades chinesas transformaram um assunto de Saúde Pública numa questão política. Sistematicamente, negaram o acesso a Whuan de instituições e autoridades de saúde mundiais.

Li Wenliang, o jovem médico que tudo fez para alertar as autoridades chinesas da existência do vírus foi silenciado e as suas advertências não foram escutadas.

Em vez de enfrentar o problema do Covid 19 numa perspetiva científica e de colaboração com os países ocidentais, a China escolheu o isolamento e "correu em pista própria", tendo desenvolvido, com pouco sucesso, o seu próprio sistema de vacinação.

Assim, as vacinas de produção chinesas revelaram uma acentuada falta de qualidade, não tendo conseguido o objetivo de proteger a população, sobretudo os mais idosos. Hoje a China está num beco sem saída, sem vacinas eficientes e sem uma efetiva imunidade de grupo, também por não possibilitar uma maior circulação das suas populações.

Ao invés de uma abordagem mais científica a China politizou a questão Covid 19, optando por uma prática de severa restrição de liberdade de movimento dos seus cidadãos, com manifesto resultado negativo para a sua economia e, por via dela, para a economia mundial.

A chamada política do covid-zero transformou-se, assim, na primeira grande derrota de Xi Jinping, que lhe pode trazer graves problemas na afirmação dos seus objetivos políticos, no curto e médio prazo.

A população chinesa, sobretudo das cidades mais populosas, como Xangai, Pequim, Guangzhou ou Chonqing, viu-se confrontada com a obrigatoriedade de permanecer nas suas residências por períodos que chegam a atingir os cem dias.

Em relação à covid-zero, a China está hoje a pagar o preço de uma política de saúde isolacionista, pouco transparente e de fraca cooperação internacional.

Temos, pois, como consequência o resultado dessa política baseada na repressão e na restrição da liberdade dos cidadãos.

Cidadãos fechados nas suas casas durante meses sem poderem sair, operários impedidos de abandonar as fábricas, interagindo com colegas que entretanto se infetaram. Prédios inteiros com apartamentos cujas famílias enfrentam sérias dificuldades para se deslocarem ao exterior e desenvolverem a sua habitual rotina quotidiana.

Desta maneira o inimaginável aconteceu. Em Xangai elementos populares criticaram o Partido Comunista chinês e Xi Jinping, exigindo a sua demissão. Estudantes da Universidade de Tsinghua, protestaram em Pequim contra a política covid-zero. Em Hong Kong voltaram a ouvir-se as vozes de protesto contra as autoridades centrais de Pequim.

Para resolver uma situação de revolta social, que parece ser grave, a China, como habitualmente, escolheu a via da repressão. Jornalistas estrangeiros detidos, prisão de cidadãos chineses, manipulação das redes sociais para esconder os protestos da população.

A política de Xi Jinping da covid-zero mostra que a China persiste no caráter isolacionista e repressivo das suas políticas. Numa matéria que é também de interesse mundial não se articula com os países que podem dar um assinalável contributo para a saúde da população chinesa. Num país que tem uma densidade populacional de 1,4 mil milhões de seres humanos, não tentar todos os instrumentos ao dispor para resolver uma gravíssimo problema de Saúde Pública, é uma atitude criminosa e desumana.

O que da parte das autoridades chinesas não parece ser grande novidade.

Jornalista

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