CGOs na admirável nova era da geoeconomia
A ordem económica global está a mudar e uma das principais mudanças traduz-se no aumento da relevância da geoeconomia, o campo de estudo que liga a economia e a geopolítica. O estudo da geoeconomia é especialmente importante no que tange às trocas internacionais, cada vez menos decorrentes do laissez faire da era da globalização e cada vez mais utilizadas como instrumento ao serviço de interesses geo-estratégicos do país ou bloco económico em causa.
Em alguns países, vigora há muito a subordinação do funcionamento da economia e das empresas (incluindo as privadas) à [geo-]estratégia do estado; o caso mais evidente é o do Estado-Partido chinês. Noutros países relevantes (Japão, Coreia do Sul, Alemanha) a política económica, incluindo a internacionalização dos principais grupos, é decidida de forma articulada entre o governo e estes grupos. Com a nova Administração Trump, entrámos numa nova era da geoeconomia, em que as relações económicas internacionais dos EUA – a começar pela política comercial – são um dos principais mecanismos utilizados na gestão económica e política do país. Nesta nova era, assistimos a um aumento do uso de ferramentas de política geoeconómica, como sanções, embargos, tarifas, restrições no acesso a recursos naturais, controle de cadeias de fornecimento de matérias primas críticas, controle de tecnologias estratégicas, controle de fluxos de capital; em linha com o aumento da coação e da fragmentação na geopolítica do comércio internacional.
Também no que tange à geopolítica das finanças internacionais, assistimos ao declínio do domínio do dólar americano – e subsequente maior relevância de outras divisas (euro, iene, yuan) – e a um maior intervencionismo estatal nos fluxos de capital. Os efeitos nas economias domésticas deste intervencionismo estatal nas trocas comerciais e nos fluxos de capital são já significativos – queda do dólar, aumento da relevância das criptomoedas, problemas para empresas exportadoras europeias, redução significativa do IDE na China, deslocalização de muitas empresas chinesas para o estrangeiro. Outro setor afetado nesta nova era da geoeconomia é o da economia da guerra, seja quanto ao aumento da produção de armamento, seja na I&D subjacente, seja no concernente à afetação comparativa de recursos financeiros – com a respetiva redução de capital disponível para outras finalidades, nomeadamente sociais.
A relevância da geoeconomia e o aumento das tensões geopolíticas não é um assunto exclusivo dos governos, tendo levado universidades (John Hopkins, Dartmouth, Kiel, Stanford) a expandir os seus programas de geoeconomia, o mesmo sucedendo com entidades internacionais (FMI, Atlantic Council, Milken Institute). Como alguns analistas sugerem, vai sendo tempo de as empresas com maior exposição ao comércio internacional criarem um novo cargo – o de diretor de geoeconomia (“CGO”).
Consultor financeiro e business developer www.linkedin.com/in/jorgecostaoliveira